Interpretando um médico em Novo Mundo, Caco Ciocler afirma: “Existe uma geração focada na glamourização da profissão”

Publicado em 04/07/2017

Sempre elogiado pelos trabalhos que realiza no cinema, no teatro e na TV, Caco Ciocler segue com destaque em Novo Mundo, trama de época exibida na faixa das 18h da TV Globo.

Escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, a novela mostra o cotidiano do nosso país ainda nos tempos de colônia. Caco dá vida ao Dr. Peter, um médico vindo da Áustria com o objetivo de atender os mais carentes praticamente a troco de nada.

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Essa é a segunda vez que o ator dá vida a um médico. Em 2016 fez a primeira série nacional do Universal, Unidade Básica. Na história, assim como o enredo de Novo Mundo, o atendimento aos mais necessitados era o enfoque central.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Ciocler revela como se prepara para entrar no set e dar verossimilhança às cenas em que Dr. Peter manuseia instrumentos ou realiza atendimentos. Caco ainda faz uma análise de uma das profissões mais essenciais para a sociedade, a medicina.

“Existe uma geração de médicos sendo formada com uma visão muito focada na glamourização da profissão. São médicos cada vez mais especialistas e menos preparados para olhar o indivíduo como o conjunto dessas partes. Cada vez mais preocupados com as doenças e menos com os pacientes!”, acredita o ator que defende o programa Mais Médicos, em que profissionais da saúde vão ao encontro da população mais carente.

Confira:

Pelas minhas contas essa é a segunda vez que você interpreta um médico. Teve a série UB no Universal e agora Novo Mundo. Vejo que uma coisa não mudou, levando em conta as épocas em que cada história se passa: a precariedade do sistema de saúde no Brasil. Consegue fazer paralelos sobre esses trabalhos e o contexto social em que cada um está inserido?

Olha, por mais que possamos traçar paralelos estamos falando de duas épocas muito distintas. A novela retrata um sistema de saúde público dito decente que era impensável em qualquer lugar da Europa, imagina nas colônias. Isso sem falar das questões mais básicas de higiene, alimentação, da própria sobrevivência. O problema é isso ter perpetuado até o século XXI, não é? Por outro lado, a série tratava do universo das Unidades Básicas, que vieram justamente na tentativa do governo de resolver uma série de questões importantíssimas. Desde o desafogamento das emergências, entendendo que o mais inteligente, barato e humano é a prevenção, O resgate da medicina de família. Ou seja, a série veio mostrar o universo das soluções e não para apontar para as precariedades.

O que estudou para compor o seu personagem? Quais séries médicas já assistiu e recomenda?

No caso do Dr. Peter, na novela, a medicina estava engatinhando ainda. Li um livro sobre casos médicos extraordinários da época. No set temos uma pesquisadora que nos orienta cena a cena com os procedimentos específicos. Para o Dr. Paulo, da série, frequentei algumas Unidades Básicas de Saúde e aprendi alguns procedimentos. Assisti Dr House inteira. Recomendo Unidade Básica!

Ele é um idealista?

Sim. Um cara que sai da Áustria e vem para o Brasil Colônia, atender a população sem condições mínimas de higiene e saúde. Recebe como pagamento o que a pessoa puder oferecer, milho, galinha. É um idealista. A própria escolha dessa profissão é, por si, uma escolha altruísta, pelo menos deveria ser!

Falta por parte também da classe médica uma humanização?

Acho que sim. Isso aprendi com a série, isso a série discutia muito. Existe uma geração de médicos sendo formada com uma visão muito focada na glamourização da profissão. São médicos cada vez mais especialistas e menos preparados para olhar o indivíduo como o conjunto dessas partes. Cada vez mais preocupados com as doenças e menos com os pacientes! Algumas séries médicas são um grande problema para os defensores da medicina humanista. Criaram, ou ajudaram a criar, uma ilusão de que ser médico é uma aventura, onde todo dia você vai descobrir a cura para uma doença rara, num hospital dinâmico, cheio de adrenalina, ao lado de colegas lindos e bem sucedidos.

Vivemos há pouco tempo uma polêmica envolvendo esses profissionais por conta de um programa do Governo Federal, o Mais Médicos. Gostaria que comentasse sobre isso, afinal, o seu personagem vai onde estão os doentes. 

Obviamente que o programa Mais Médicos não resolveu e nem vai resolver todos os problemas. Mas foi uma iniciativa pontual e urgente que trouxe um resultado importantíssimo. As vagas primeiro foram oferecidas aos brasileiros. Muitas sobraram, justamente porque os médicos brasileiros não queriam ir para as regiões mais remotas e ganhando o que lhes era oferecido pelo trabalho. Então o governo abriu as vagas para os estrangeiros e ocupou todas. Com isso conseguiu resolver o problema a curto prazo, levando médicos a locais que nunca antes tinham recebido a visita de um. A maioria das pesquisas que li aponta enorme aprovação por parte da população beneficiada, principalmente no caráter humanista desses profissionais, tanto que o próximo governo, que tinha prometido acabar com o programa, teve que voltar atrás e manter os médicos. Algo me diz que um estudante de medicina, pelo menos os que cursam as universidades federais e estaduais deveriam prestar serviços (ou seja, devolver o investimento) para a sociedade. Parece que agora é obrigatório o formado ficar ao menos seis meses numa Unidade Básica de Saúde antes de se formar.

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A relação de Peter com Maria Amália vai além da relação profissional. O que podemos esperar desse casal?

Eu também não sei. Mas é um casal muito especial, uma relação muito amorosa, muito delicada, de muito cuidado. Amália está doente, fragilizada, então um envolvimento amoroso, ainda mais com o médico que a está cuidando, dá possibilidades infinitas para esses dois. É uma relação bonita, muito particular. Eu torço muito por eles. As possibilidades são infinitas.

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