“É triste que as mulheres ainda passem por isso”, lamenta Sophie Charlotte sobre violência doméstica

Publicado em 01/07/2017

No ar como Alice, de Os Dias Eram Assim, Sophie Charlotte, a protagonista da supersérie, conversou com o Observatório da Televisão, onde contou detalhes do drama vivido pela personagem que está presa em um casamento com Vitor (Daniel de Oliveira), mesmo amando Renato (Renato Góes). Confira o bate papo:

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Como você faz para manter essa cara de menininha por tanto tempo?

Eu já sinto que mudei tanto. Me olho no espelho e vejo outra pessoa.

Fala sobre sua personagem em Os Dias Eram Assim, a Alice.

Eu estou muito feliz, foi uma grande oportunidade de defender a jornada da Alice e poder falar desse momento histórico do Brasil. Tive que mergulhar no momento das músicas, no movimento estudantil, e entender como era ser mulher naquela época, como era viver relacionamentos pessoais e familiares, para assim poder contar uma história de amor.

Como é fazer parceria com seu marido, Daniel de Oliveira na supersérie?

Talvez pelo fato de sermos casados, e ter muita intimidade, a parceria tem sido um mergulho muito grande. Nos jogamos nesse abismo que é a história desse casamento falido entre Alice e Vitor. Saímos daqui refletindo sobre as relações humanas e suas questões, e nos amando mais, claro.

Durante as cenas em que o Vitor tem atitudes agressivas você já falou “opa, isso não tem nada a ver com meu marido”?

Na hora que você está na cena, não existe esse tempo de se deslocar daquele momento e pensar em outra coisa. Gravamos uma cena bem forte, nem sei se posso falar, que o Vitor começava a manejar uma arma que era do pai da Alice. Naquele momento eu tive uma reação não só da minha personagem, mas uma reação física também, devido à presença daquele objeto.

Você acredita que a Alice se sinta presa ao Vitor por causa dos filhos?

Isso é tudo muito difícil, afinal são sentimentos. O Amor da Alice pelo Renato fico no campo da possibilidade, e naquele tempo que eles foram afastados, ela construiu uma vida, uma família com filhos. Só 14 anos depois ela começa a rever a própria felicidade.

A cena em que a Alice faz topless gerou bastante repercussão, onde compararam a personagem com a Leila Diniz. O que você acha disso?

Esta cena foi bem no começo da novela, e toda a repercussão disso me deixou bem intrigada, mas foi uma libertação para a Alice. No caso da Leila Diniz, o que ela fez foi usar biquíni e exibir a barriga de grávida bem grande. O que me chama atenção é que estamos em 2017, e se fala disso do mesmo jeito que se falava na década de 70. E o que para mim era apenas a retratação do verão daquela época, eu percebi que haviam questões que perduraram até hoje.

Sua personagem passa por um casamento difícil. Para você o que significa o casamento?

Conceituar o casamento é algo muito pessoal. Estou descobrindo o casamento a cada dia, a beleza desse nosso acordo, que acredito ser um desdobramento. Nossos desejos e sonhos vão se modificando assim como o “sim “ que eu o Daniel dissemos dois anos atrás.

O que faz uma mulher ficar num casamento falido?

No caso da Alice, tem aquele apego de pensar nos filhos, além do divórcio da época ter uma série de restrições, mas creio que ainda hoje cada mulher tem sua motivação, e aí não posso afirmar que seja por algo específico.

Você já teve retorno de mulheres que passaram por essa pressão psicológica que a Alice vem vivendo no casamento?

Ainda não. Mas acho que isso está chegando aos poucos na história também. Até então era mais um desconforto que ela tinha com ele, agora ela não se sente segura por ele ser agressivo, apesar de se manter com ele por uma gratidão, por toda a paciência que ele teve com ela, devido ao luto dela pelo amor que não viveu.

O que significa para você ser uma porta voz contra a violência?

A gente tem que falar muito sobre isso. A taxa de feminicídio é tão absurda no nosso país que precisamos trazer isso à tona e fazer entender os sinais, percebendo onde aquela alteração começa a se transformar em agressão. Falamos muito em agressão física, mas antes dela existe uma agressão psicológica que vai minando a ponto de levar à agressão física. Muitas mulheres se mantêm nessa situação, e quando se percebem agredidas sua autoestima está tão abalada que elas se sentem sozinhas e não conseguem sair. Fazer um personagem como Alice que é uma mulher empoderada em tantos sentidos, é uma artista, que tem um pensamento político forte, mas que pessoalmente tem muitas fragilidades tem sido ótimo.

Naquela época, era complicado até buscar o socorro pela falta de leis como a Maria da Penha.

Talvez esse seja o dado mais alarmante: chegar à conclusão que mesmo com tantas possibilidades hoje em dia, tantas mulheres continuem passando por isso. Às vezes falar de um passado com tanto distanciamento histórico faça a gente pensar “opa, precisamos resolver isso”.

Você é mãe na ficção, assim como agora também é mãe na vida real. A maternidade tornou você mais apta para a ficção?

Não só a questão da maternidade, mas todas as questões humanas. A gente não necessariamente tem que viver tudo na vida real para conseguir representar na ficção, mas ser mãe me ajudou a entender o despudor do que você pensou para si e para a vida do outro.

Hoje você pensa duas vezes antes de fazer as coisas, ao lembrar do seu filho?

Na verdade eu penso primeiro nele. Quando eu ainda não era mãe, eu acreditava que seria assim, que eu pensaria e depois repensaria, mas não é assim, ele vem sempre em primeiro lugar, é algo que é mais instinto que racional.

A Alice deu um beijo no Renato, mesmo ela sendo casada com Vitor. Você acha que ela enxergou nesse beijo uma traição?

Os dois são casados, tanto ela, como ele, e para mim é curioso. As histórias humanas são complexas, não existe só o branco e o preto. Acho bacana que as pessoas entenderam isso, e não passa pela cabeça dos personagens de fazer os parceiros sofrerem, mas é inevitável.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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