“Edinalva dará uma surra na Ritinha”, adianta Zezé Polessa sobre A Força do Querer

Publicado em 22/06/2017

Ela chegou aos poucos e logo foi roubando a cena em A Força do Querer. A personagem Edinalva é sucesso entre o público da novela, e sua intérprete Zezé Polessa bateu um papo com nossa reportagem para comentar a repercussão e como foi a construção da mesma. Veja:

Zezé Polessa foi responsável por grande mudança em A Força do Querer

A Edinalva, sua personagem em A Força do Querer é um verdadeiro sucesso. Como você a construiu?

Quando comecei estudar como seria a personagem, imaginei ela completamente diferente do que é hoje. Acreditei que ela fosse meio rabugenta pela implicância com a filha nas primeiras cenas, e até um pouco beata por ter aquela devoção à santa mas quando fui para Acajatuba, que é o local onde foram gravadas as cenas de Parazinho, mudei minha percepção sobre ela. Comecei a observar as mulheres locais, e fazer diversas perguntas até mesmo sobre a real existência do boto, e elas diziam “Aqui não tem, mas na vila aqui ao lado tem uma moça que é filha de boto”. Levei a Edinalva por este caminho, pois as pessoas lá acreditam nessas pequenas lendas.

Aconteceu algo engraçado ou diferente enquanto você observava as pessoas de lá?

Aconteceu. Após as gravações sempre íamos a um local, uma espécie de feira  de artesanato comandado por uma senhora de lá, para relaxar, tomar uma cerveja, e as pessoas sabiam que os atores se reuniam lá e iam pra lá também. Certa vez choveu muito e todo o chão se transformou em lama, logo, todas as mulheres chegavam com as pernas sujas de lama, e comecei a observar uma delas com as unhas do pé e das mãos muito bem pintadas de vermelho. Percebi que existia ali uma vaidade e auto-estima muito grandes e peguei aquilo para a personagem. Passei a perceber a energia das pessoas que não sei se devido a natureza ou o sol a pino, era diferente. Em todos os dias que passei lá não vi uma única pessoas vestida de preto, eram sempre roupas muito alegres e coloridas, algo que também refletiu no meu figurino.

Essa auto-estima elevada da Edinalva inclusive foi colocada no texto pela Glória não foi?

Sim. Fizemos uma cena onde ela e a Cândida estavam se arrumando para sair, e a Cândida dizia que ela estava chamando atenção demais, e ela respondia: “Capaz de eu querer me aprontar pra ninguém reparar” (risos). Às vezes quando eu tiro a roupa da Edinalva pra colocar a minha, eu falo “Gente, tô quase levando essa blusinha dela”. Vestimos de forma tão básica, tão preto e branco que é bom variar.

Você tomou esse gosto pra vida?

Sempre. A gente fica envolvido com esse universo. Não é um universo de crítica negativa a essa cultura, é de exaltação. É preciso criar empatia, e isso é feito com muito cuidado para não se tornar algo repulsivo que vá afastar o público. Até mesmo o vilão precisa ter uma inteligência, um charme, um olhar.

Zezé Polessa como Edinalva em A Força do Querer (Divulgação/ TV Globo)
Zezé Polessa como Edinalva em A Força do Querer Divulgação TV Globo

Existe na Edinalva e na Ritinha uma relação de mãe e filha muito interessante. Como vocês criaram essa conexão?

Fomos desenvolvendo tanto a Edinalva como a Ritinha em conjunto. O que não é por personalidade é por convívio. Até mesmo as convicções das duas são semelhantes, pois enquanto uma diz ter engravidado do boto, a outra acredita ser uma sereia de verdade. Durante a preparação fizemos um ensaio dançando e o rapaz que estava ministrando a oficina gostou até do nosso movimento de corpo, então levamos as duas personagens para as danças. Uma para o carimbó, outra para a gafieira.

Quando se vive em uma cidade grande, pensamos nos boletos, no stress do cotidiano. Quando você voltou de Acajatuba, passou a dar mais valor às pequenas coisas?

Fui para a Amazônia há 30 anos, e essa viagem sim mudou minha vida. Eu dormia na rede, ficava no rio, e tudo mais, mas desta vez durante a preparação da novela foi diferente. Eu não consegui resgatar a lembrança que tive da primeira vez devido ao ritmo intenso de trabalho. Saíamos às 4 da manhã numa lancha abaixo de um temporal para gravar e voltávamos às 9 da noite. Fiquei doente, assim como outros atores, mas desejo ainda poder voltar lá mesmo que seja para gravar o final da novela, já sem a pressão da estreia, e essas coisas.

Como é a troca com a Isis Valverde?

Conheci a Isis há 10 anos, ela tinha 20 anos e estava iniciando o segundo trabalho dela na televisão. Éramos mãe e filha também, Ivete e Raqueli de Beleza Pura, e ali ela era a personagem que tinha o enredo mais forte e eu era apenas a mãe, e mesmo com a inexperiência eu via nela aquele brilho porque ela já era um talento. Quando o Papinha (diretor da novela) me convidou e disse que eu seria novamente a mãe da Isis eu pensei “de novo” e adorei. Somos um tipo de atriz que estuda e que gosta de conversar sobre o personagem, e sobre as cenas uma da outra. Desta vez sinto que foi um encontro mais profundo, ela mais madura e eu mais aberta a trocar com uma pessoa jovem e que não é mais tão inexperiente.

Você está mais aberta a novas possibilidades nessa personagem?

O desejo de fazer bem feito é o que te abre. Quando você vai para um set de filmagem feliz, é como querer abraçar as pessoas a sua volta. Quando eu gravei a primeira cena no estúdio que a Edinalva falou “o pau te acha”, no dia seguinte estava escrito no quadro”#OPauTeAcha”, e isso é maravilhoso. Por falar nisso já gravamos outra cena em que a Edinalva dá uma surra na Ritinha, porque ela vai simplesmente abandonar tudo, e ir pra casa dela.

É fácil sair de uma personagem tão densa como em Liberdade, Liberdade e já cair numa personagem leve como a Edinalva?

Tem um tempo. O texto é diferente além claro, da preparação que temos. Atualmente a preparação para a personagem é algo grandioso, a última grande preparação que tive havia sido em Salve Jorge, em que passei duas semanas na cozinha da Ana Maria Braga aprendendo a fazer pratos turcos, porque naquela cultura mesmo as mulheres que são ricas e tem cozinheiras, cozinham para seus maridos. Aprendi fazer um creme de berinjela, que nunca tive que fazer em cena, mas a gente aprende a se qualificar para dar vida ao personagem.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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