Drica Moraes dispara: “Essa corrida pela juventude eu acho uma perda de tempo”

Publicado em 21/06/2017

Drica Moraes estará na nova série da Globo, A Fórmula. Ela dará vida à Angélica, uma cientista que sem conseguir patrocínio para sua pesquisa, resolve ser cobaia de si mesma, e acaba usando em si uma fórmula que a faz ficar 20 anos mais jovem por alguns minutos, e com isso tenta reconquistar um amor do passado. A atriz conversou com nossa reportagem para contar as novidades sobre a série e sobre a personagem:

”O humor está nas piores situações da sua vida”, revela Drica Moraes

Conte-nos um pouco sobre a série e sobre sua personagem.

É uma história desse reencontro de um casal, 30 anos depois, onde há um grande mal-estar, uma grande decepção e essa personagem, que sou eu, uma cientista, acaba desenvolvendo uma fórmula em que ela rejuvenesce 30 anos em um minuto, e aí eu viro outra pessoa, outra atriz na verdade. Viro eu na versão mais jovem e passo a disputar o amor do mesmo homem, a gente passa a disputar o amor do personagem do Fabio Assunção. Então, é um triângulo amoroso muito inusitado, muito incomum, muito louco, divertido e leve, em que eu disputo comigo mesma o amor desse homem.

É uma boa história de amor?

Sim, é uma história irreverente, leve, um programa para família toda, que fala muito dos amores da juventude, os primeiros grandes amores, as primeiras grandes decisões de trabalho, as frustrações, e como é reencontrar um grande amor trinta anos depois com a chegada da idade, com as mudanças do corpo, com as mudanças da cabeça, e do mundo. Uma série bem instigante, divertida e muito emocionante.

E como foi dividir esse trabalho com a Luisa Arraes?

Foi maravilhoso porque a gente fez uma dobradinha em todos os momentos. Criamos a personagem juntas, tanto na sala de ensaio quanto no set de gravação. A gente se via muito, via cena da outra, copiava uma à outra, roubava coisas da outra, tudo num sentido de trabalho colaborativo muito intenso, muito forte. E estamos bem parecidas na série, não muito fisicamente mas desenvolvemos algo muito mais forte como gestos, tipo de voz, gritinhos, gemidos, risadas, o jeito de falar, enfim, foi muito rico trabalhar com esse elenco todo.

A história da série fala sobre uma fórmula que traz a juventude de volta. Você acha que é legal ter uma fórmula mágica, você acharia bacana se isso estivesse ao nosso alcance, se fosse real?

A única coisa que eu faço questão de preservar é uma alegria pela vida, fazer as coisas com amor e com vontade. De resto, eu não voltaria no tempo nunca. Deus me livre viver tudo de novo. Já dá muito trabalho viver tudo uma vez. Duas vezes não precisa. Essa corrida pela juventude eu acho uma perda de tempo. Quando o tempo passa e você descobre o barato de cada idade, a delícia de cada idade, é muito bom. O tempo pode vir muito a nosso favor.

Quais são seus próximos projetos após esta série?

Estou fazendo teatro, tentando levantar uma peça na guerrilha porque o país está todo desmontado economicamente, a cultura também muito desmontada, desvalorizada. Devo estrear pela periferia do Rio de Janeiro, em Bangu, Nova Iguaçu, Caxias. Estou querendo fazer um trabalho diferente nesse sentido. A história também tem a ver com essa loucura das mulheres em torno da juventude eterna, por coincidência é um texto espanhol que acabei descobrindo, e é um retrato importante da mulher nesse desespero ou ânsia de ser eternamente jovem quando há milhões de possibilidades maravilhosas para serem vividas.

O que você aprendeu com a idade. Você se sente mais confortável hoje com a sua idade?

Quando a gente é jovem a gente precisa ser aceito, profissionalmente, moralmente. A gente precisa que os outros aceitem a forma como a gente quer viver e quem a gente quer amar. Depois dos 48 anos, que é a minha idade agora, a gente goza mais da sabedoria ou desse lugar que você não precisa agradar aos outros ou provar quem você é.

Como é para você manter este projeto que leva o teatro para a periferia?

É realmente um estado de guerrilha, de luta, e não é só a cultura, mas os espaços públicos, teatros, principalmente no estado do Rio estão num abandono muito grande. Quem está preocupado com a sobrevivência da arte hoje no Rio de Janeiro, e está com energia, está certamente pensando em uma maneira alternativa para se apresentar. Os teatros particulares estão fechando, ou cobram caríssimo pela manutenção e os públicos estão abandonados, e precisamos tornar palatável e acessível, essa expressão que é o teatro. O negócio é sair dos grandes centros e espaços tradicionais, fazer um tipo de teatro de rua. Espero que eu consiga concretizar.

Como você enxerga essa necessidade de fazer algo diferente assim? Como reinvenção da profissão ou acha frustrante?

A frustração é coletiva, de todo brasileiro que paga imposto e não vê seu imposto representado em bens públicos de nível. Mesmo com essa certa tristeza em ver esse panorama, quero investir energia em coisas boas, e me desligar de tudo que nos coloque pra baixo. Hoje fazer esse tipo de teatro é algo que me alimenta profundamente.

A Angélica vai encontrar um amor do passado, e mutos casais estão passando por isso através das redes sociais. Como você enxerga essa tentativa de recomeçar com pessoas que já deixamos no passado? 

Redes sociais é algo de agora e as pessoas têm começado relações por aí, não sou muito engajada nisso mas acredito que toda forma de amor vale a pena. O negócio é ter o resgate do ao vivo. A frustração dos personagens é que eles não poderiam estar juntos fisicamente, qualquer casal precisa do contato, da pele.

Você acredita que possa existir um dia a juventude eterna?

Não. Mas acredito que a juventude esteja em valores muito simples como generosidade, afeto, respeito pela natureza e pelo outro são formas muitos simples de se manter jovem.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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