“É preciso ter uma atitude forte contra a corrupção”, afirma Marcello Airoldi que dá vida a um homem honesto no teatro

Publicado em 20/05/2017

Com papeis de destaque em tramas da TV Globo nos últimos sete anos, entre elas, Viver a Vida, Salve Jorge, Malhação e Sol Nascente, o ator Marcello Airoldi vive também um bom momento na carreira na TV por assinatura, no cinema e no teatro.

No GNT, protagonizou ao lado de Bianca Byington Vizinhos, no cinema S.O.S Mulheres ao Mar e Amor em Sampa, de Bruna Lombardi, e no teatro fez Intocáveis e La Estupidez, de Otavio Martins.

Atualmente em cartaz com a peça Não Vamos Pagar!, Airoldi dá vida a João, um homem trabalhador e pacifico que não se dá conta de que seus direitos, enquanto cidadão, estão em jogo.

Ao lado de Virginia Cavendish, Antônia, situações inusitadas ganham forças tendo como pano de fundo temas bem atuais na vida dos brasileiros. Escrita por Dario Fo, a montagem aborda o machismo, empoderamento feminino, manifestações, movimentos de greve, abuso de poder policial, entre outros.

Em conversa com o Observatório da Televisão, Marcelo  destaca o empoderamento das mulheres e do atual momento político que o Brasil atravessa: “É preciso ter uma atitude forte contra a corrupção.”

Confira:

A mulher tem conquistado cada vez mais voz na sociedade. Antônia desempenha um papel que é “despertá-lo” para questões sociais. Como analisa esse relacionamento? Como analisa o papel da mulher atualmente?

A peça foi escrita há muito tempo, num momento em que a mulher tinha muito menos espaço na sociedade do que hoje. Antônia e Margarida vivem o contexto machista típico da década de 1970, não trabalham fora, vivem o debate entre tomar pílula e seguir as orientações religiosas etc. No entanto, Antônia não se aliena e enxerga o mundo de forma mais crítica que João. Já são traços de uma mulher que Dario Fo desenha além de sua época. Uma mulher mais forte, lúcida e não submissa aos pensamentos machistas que perduram até hoje.

Em tempos de reformas e discussões tão acaloradas no mundo político, a peça apresenta cenas com movimentos de greve, protestos, machismo, acesso à questões básicas como alimentação, abuso de poder por parte de policias, péssimas condições trabalhistas…  O amigo do João, Luiz  (assim como Antônia), faz com ele também desperte pelos seus direitos no trabalho. Como analisa essa amizade e o engajamento dele? Por que João não é engajado? Como tem sido o retorno do público durante esses quase três anos em cartaz?

O sistema social se repete. Ainda há desemprego assustador, a violência da polícia continua evidente, os menos favorecidos ainda são oprimidos e rejeitados. A receita de opressão social continua sendo seguida, apesar de disfarçada. O livre comércio, os rentistas, a corrupção na política, são temas da peça e por isso a torna – infelizmente – tão necessária de ser montada agora.

A identificação com o público é imediata. A recepção do espetáculo tem sido emocionante. João representa, de certa forma, um ideal de justiça e comportamento, mas no contexto da peça, deixou de enxergar que isso o torna passivo diante das problemáticas do mundo. É explorado diariamente, mas perdeu forças para se manifestar e lutar contra aquilo que o oprime. É na relação com os outros que ele percebe que a força está no coletivo, que juntos podem de fato mudar pra melhor e ganhar respeito na sociedade.

A honestidade do João é algo que chama a atenção. Como é construir um personagem levando em conta o comportamento tão típico dos brasileiros que “é dar o seu jeitinho pra tudo…”?

É muito interessante mostrar que o jeitinho brasileiro é uma furada. Apesar de todos as situações cômicas e mal entendidos da peça, o texto mostra que é preciso ter uma atitude forte e coerente contra a corrupção e descasos na política. João passa por uma transformação e percebe a importância do senso crítico e de se lutar pelos seus direitos.

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S.O.S. Mulheres ao Mar – janeiro no cinemas

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Como analisa a sua profissão levando em conta os sentimentos que pode provocar no público?

O ator, o teatro, tem a possibilidade de expandir pontos de vista, ampliar referências do espectador. Quando se apresenta um espetáculo, a dramaturgia já passou por inúmeros filtros de interpretação do diretor e dos atores, oferecendo ao público um universo muito mais rico para sua leitura, degustação e senso crítico. Isso é maravilhoso.

Em um determinado momento da peça os personagens dizem: “Quem é que não vai ficar do lado de gente trabalhadora e honesta como nós?” Comente por favor:

Respondo com referências de nosso texto: não estão do lado de trabalhadores os especuladores, os rentistas, os políticos corruptos, a polícia que ainda não se vê como povo.

 

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Gravando na matina @nandacostareal

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Serviço:
Teatro Porto Seguro – Não Vamos Pagar! de Dario Fo.
De 12 a 21 de maio – Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 19h.
Classificação: 12 anos. Duração: 95 minutos. Gênero: Comédia.
Ingressos: R$ 70,00 plateia / R$ 40,00 balcão e frisas.

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