Atriz Carol Duarte comenta importância de personagem trans em A Força do Querer: “As pessoas estão morrendo nas ruas”

Publicado em 14/03/2017

Carol Duarte é uma jovem experiente nos palcos, mas vai aparecer pela primeira vez na televisão em A Força do Querer nova novela das 21 horas que estreia no dia 9 de Abril. A atriz terá a missão de dar vida à Ivana, uma moça que se descobre transsexual. O Observatório da Televisão conversou com Carol, que contou pra algumas curiosidades sobre a personagem e como está sendo o desafio de interpreta-la.

Como a transformação da Ivana será abordada na novela?

Como é uma obra aberta sei apenas até um certo ponto. No começo ela está bastante confusa, tentando entender o que está acontecendo com ela, dificuldade nessa ligação do corpo com a cabeça o que a principio não entende e ela começa a descobrir outro universo.

No drama que ela vai viver, ela contará com a ajuda da prima? 

A prima Simone (Juliana Paiva) é uma confidente, mas por não estar em contato com este mundo, ela também não sabe exatamente o que está acontecendo com a Ivana. A Simone acha que ela tem um problema de auto-estima, acha que ela não está se sentindo bem com ela mesma, mas a questão da transsexualidade ela não entende ainda.


Como foi sua pesquisa para viver esta personagem?

Me cerquei de muitas coisas, e um canal que usei muito foi o Youtube. Tem muitas pessoas hoje que fazem vídeos, pessoas antes da transição, antes de tomar testosterona. Li muitos livros também. Li Viagem Solitária – Memórias de um transexual 30 anos depois do João Nery, Problemas de Gênero da Judith Butler, e alguns artigos. Tem pessoas da academia ou mesmo fora dela que escrevem sobre o tema. Assisti a alguns filmes como A Garota Dinamarquesa, Meninos Não Choram, Tomboy, tem uma série chamada Transparent que é muito legal. Conversei com pessoas trans, principalmente homens trans pra entender cada história e entender a história da Ivana.

Sabemos que a Ivana terá uma transformação. Como será essa transformação? Você vai precisar cortar o cabelo?

A gente ainda não sabe exatamente, mas eu estou muito animada para essa transformação. Vai ser algo muito bonito. A Ivana vai se libertar de certas coisas, e ela vai passar a entender o mundo dela, e creio que será muito feliz.

A mãe da Ivana parece que não vai aceitar bem não é?

A mãe da Ivana, a Joyce (Maria Fernanda Cândido) é uma mulher muito feminina, e se dedicou à Ivana para que ela fosse muito bonita, muito feminina e vai ter um conflito em relação à isso, mas creio que a família é o ponto chave para auto aceitação. Primeiro a pessoa, depois a família e depois a sociedade.

Você está preparada para esse público de uma novela no horário nobre, e para o assédio da imprensa?

O assédio da imprensa é engraçado pra mim porque como sou do teatro tudo isso é muito novo, mas o protagonismo é das pessoas trans e não meu. São eles quem vivem isso todos os dias. Eu como atriz estou me dedicando, dando tudo o que tenho, estudando há muito tempo e extremamente feliz do tema vir a tona.

Você tem noção que pode salvar muitas vidas?

Isso me emociona muito! Quando eu fiz o teste para este personagem eu sabia da importância dele hoje no Brasil. As pessoas estão morrendo na rua, sendo apedrejadas na como o caso da Dandara, então me move muito como atriz, e como artista estar numa novela das nove levando essa questão para a sala de estar das pessoas que certamente vão discutir entre a família e isso é o principal: falar sobre isso, porque é uma questão muito importante.

Você acha que pode haver críticas por uma parte mais conservadora da população que acha que isso não pode ser visto na TV ou crítica nas redes sociais? 

A parte mais conservadora a gente já espera e acho bom que a gente discuta sobre isso, que as coisas sejam ditas. É claro que uma parte da população pode não gostar e tal, e é inegável que o tema terá maior visibilidade.

Você entrou num núcleo com Dan Stulbach e Maria Fernanda Cândido. Já os conhecia antes?

Não tinha trabalho com eles mas já os conhecia. Conheci o Dan em um espetáculo que ele tinha na escola de artes dramáticas que eu fazia. Eu fiquei muito feliz com esse núcleo porque admiro muito o trabalho dos dois, tenho o maior respeito pela trajetória deles e eles me ajudam muito.

Você é paulistana. Como está sendo morar no Rio?

Sou paulistana, e cheguei aqui em setembro do ano passado. São Paulo e Rio de Janeiro cidades próximas mas com jeitos diferentes, o Rio é uma cidade linda. Estou muito feliz de estar aqui, abro a janela e vejo essa vista, a praia.

É o seu primeiro papel na TV?

É meu primeiro papel na TV, e é uma responsabilidade muito grande, em um personagem inédito, então estou aprendendo a mecânica de gravação. A galera da câmera me ajuda muito, a direção, o próprio Dan e a Maria Fernanda.

Deixou algum coração partido em São Paulo?

Não.

Como foi o seu encontro com meninas e meninos trans durante a preparação?

Foi muito legal e muito intenso porque são relatos muito fortes. A pessoa que vive essa transição, a vive de maneira muito intensa socialmente. Essas pessoas são marginalizadas, e dificilmente você vai vê-las como advogados, médicos, elas são afastadas da sociedade. A parte da população trans que tem oportunidades, e cargos é rara. O legal da novela é que como atinge a um público muito diverso, a gente vai poder olhar pra coisa e falar sobre essas pessoas.

Você já sofreu algum tipo de preconceito?

Nós mulheres sofremos com o machismo que está aí todos os dias e parece que sempre temos que provar alguma coisa para mostrar nosso valor. A luta contra o preconceito existe seja por trans, homos, mulheres, negros.

O que mais te encantou no texto da Gloria Perez?

A delicadeza com a qual ela trata o tema. As informações estão vindo aos poucos e a personagem vai passar por várias transformações, e a delicadeza do texto faz o jogo entre os atores ser muito gostoso e acho que vai ser muito mais.

As pessoas acabam confundindo achando o trans é igual ao homossexual. Você acha que sua personagem vai diferenciar isso?

Eu acho que as pessoas no começo da novela podem confundir transsexualidade com orientação sexual. Acho que a Gloria vai tocar nisso. É completamente diferente, uma pessoa trans pode ser homossexual ou não. Acho que a abertura para trans, homo, religioso, de raça, assim como o debate, precisa acontecer.

A novela Babilônia sofreu rejeição desde o primeiro capítulo ao mostrar um casal de lésbicas na terceira idade se beijando. Você acha que isso pode acontecer em relação à Ivana?

Eu acho que a Glória vai dissolver bem a história, e tento fazer meu trabalho da melhor forma possível me empenhando e pesquisando, então não sei o que vai acontecer mas creio que o público vai gostar da Ivana porque ela é muito legal, e bem humorada. É uma personagem muito bonita.

André RomanoEntrevista realizada pelo jornalista André Romano

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