Um dos destaques de Rock Story, Júlia Rabello fala sobre A Regra do Jogo: “O nosso núcleo ficou muito restrito”

Publicado em 29/01/2017

Em entrevista ao jornalista André Romano, do Observatório da Televisão, a atriz e apresentadora De Perto Ninguém é Normal, do GNT, Júlia Rabello, contou como foi o processo de composição de sua personagem Marisa, uma trambiqueira, em ‘Rock Story’, trama das 19h, da Globo.

Júlia ainda relembra a sua participação em A Regra do Jogo: “O nosso núcleo ficou muito restrito aquela própria história”. E fala também sobre a forma como a imprensa repercutiu a sua separação com o ator Marcos Veras: “A gente é muito respeitoso e reservado, sempre foi.”

Marcos e Júlia foram casados por doze anos ReproduçãoInstagram

Marisa é do tipo que não mede esforços para conquistar o que quer. Rabello revela que usar determinadas peças do figurino lhe incomodam um pouco: “As roupas que a Marisa usa em vários momentos me incomodam bastante. Pra que tão pouco pano gente, cobre um pouco mais”.

João Vicente de Castro e Júlia Rabello em uma cena de Rock Stroy Gshow

Confira o papo:

Sucesso no papel de Marisa

“A Marisa, ela tem um DNA bom. Eu já sabia desde o início que ela tinha esse perfil que tem muitas possibilidades. A maneira como a Maria Helena (autora da novela), gênia, ela concentrou nos personagens principais para depois ir abrindo o resto do elenco. Então a Marisa foi aparecendo aos poucos. Mas eu já sabia que ela podia ser um personagem muito legal. Fico muito feliz de ouvir o que você disse, torço para que seja verdade. A gente mora aqui (no Projac), a gente não tem noção da realidade, parece discurso de BBB mesmo, não sei como está o mundo lá fora, mas eu estou muito feliz com o resultado da novela. A equipe é maravilhosa e está sendo muito bom o momento. E é engraçado essa comparação com a outra novela porque a novela, assim como qualquer trabalho, dizem que cada criança traz sua própria sorte, e eu acredito que cada um tem a sua própria história. Lá (em A Regra do Jogo) o que aconteceu é que o nosso núcleo ficou muito restrito aquela própria história. Foi um trabalho muito feliz, eu amava também aquele grupo, mas a Úrsula ficou daquele tamanho. Mas também era um personagem muito interessante e poderia ter mais história para desenvolver ali, mas isso é normal em todos os trabalhos. Acontece às vezes de uma história ir mais e outra um pouco menos.”

Faltou DNA

“Lá a gente vivia numa trupe, e aquela trupe pode ter aquele tamanho naquele momento. Eu entendo que o pessoal queria ver mais e estão trazendo isso agora. Eu fico feliz, eu entendo como um elogio.”

Carência de Marisa

“Com certeza, eu gosto muito de trabalhar na Marisa e acho que também existe material pra isso, essa dualidade. A Marisa teoricamente traz os dois registros. Sim, ela realmente é uma pessoa carente, só que o método que ela usa para preencher a carência dela. Eu, Julia, não concordo. Acho que ela usa de táticas que passa por cima dos outros. Tanto que ela está se dando mal. Essa é minha opinião. Eu não sei bem como vai ser daqui pra frente. Mas eu acho que ela é uma pessoa que se bem orientada, poderia melhorar. Você vê a humanidade da Marisa quando você entende a relação dela com o irmão. Ela cuida dele, da forma deles. Eu ainda acho o seguinte, o caso que ela teve com o Nicolau em algum momento ela curtiu. Com o Ramon também ela se deu mal. Agora ela vai dar em cima do Lázaro. Vamos ver o que vai acontecer. A gente tem essa coisa de obra aberta. Eu acho interessante no texto da Maria Helena é que as histórias não se prolongam muito. Eu não imaginava que eu iria transitar tanto na trama. As histórias são dinâmicas.”

Química com Caio Paduan

“Eu conheci o Caio Paduan nessa novela. Mas antes de começar a gravar a gente fez uma preparação nossa. A gente tirou uns dias pra poder se conhecer, pra trocar ideia e falar sobre os personagens. Pra harmonizar entre a gente o que seria a história dessas crianças, dessa família. Talvez para o público nem interesse tanto, mas pra gente é interessante saber de onde vieram essas pessoas. Foi legal, foi importante.”

Construção de Marisa

“Foi um caldeirão de milhões de coisas, porque racionalizar esse processo criativo do ator a gente consegue falar um pouco, mas não consegue racionalizar mais de 50 por cento, sei lá, Freud explica. A gente costuma chamar ela de periguete, mas eu acho que ela um pouco além disso. Talvez uma alpinista social, mas a gente costuma usar esse termo pra umas pessoas de outra classe. Acho que ela está abaixo dessa pirâmide. Essa imagem que a gente tem dessa mulher que precisa sobreviver e crescer e não usam o seu trabalho a sua capacidade intelectual. Ela usa a sedução pra sobreviver e curtir a vida. Existe muita gente assim. Diante disso, a gente já viu muito desses na televisão. E sempre há julgamentos. A novela é lugar da cultura brasileira. Isso já está meio entranhado. Eu não tenho ninguém exatamente muito próxima. Eu lembro que quando eu vi Procurando Nemo, ela me lembra um pouco a Dory. Então eu acho que a Marisa tem um pezinho na Dory, tem um pezinho na Phoebe, de Friends. O que deixa ela até mais interessante. Ela fala umas barbaridades que ela nem sabe de onde saiu. Isso eu acho que dá um colorido nela. Então, na verdade a gente vai pincelando.”

Repercussão nas ruas

“Eu estou indo pouco para a rua porque o trabalho está intenso. O que eu percebo no Twitter é que as pessoas amam odiar e odeiam amar a Marisa. Mas eu vejo as duas coisas ao mesmo tempo. Eu adoro, porque eu estou propondo e o que vem da direção também é isso. Então é esse caminho. Nas ruas ou parte da minha família que acompanha falam: ‘Mas a Marisa, hein?’, tipo: ‘sapeca ela né?’. Tem um afeto nisso. Eu estou curiosa também para saber qual vai ser o caminho da Marisa. Chega uma hora que o personagem ganha uma identidade e você vai dialogando com ele.”

Personagem sensual

“Acho que sou uma boa atriz para conseguir fazer uma gostosa (risos). Mas não me vejo exatamente com o perfil de uma gostosa.”

Cantadas na rua

“Não sei se aumentaram, mas entendo que as pessoas respeitam o estado civil. Mas, como eu disse, eu tenho ido pouco as ruas. Eu entendo como um elogio, tipo ‘bacana’. Mas eu em momento algum vejo dessa forma. Eu entendo a Marisa como um personagem mesmo. É interessante vivenciar esse lugar uma vez que eu nunca me coloquei nesse lugar.”

Mexendo com o ego

“Em alguns momentos sim e em outros não. As roupas que a Marisa usa em vários momentos me incomodam bastante. “Pra que tão pouco pano gente, cobre um pouco mais”. Em outros momentos é legal. O engraçado é o seguinte, eu já venho há alguns anos… Meu perfil normal, desde adolescente, era um pouquinho mais gordinha, mais cheinha e já faz quase uns oito anos, eu não lembro data, que eu resolvi mudar isso, mas bem lentinho, tentando melhorar a alimentação. Gradualmente eu fui mudando. Só que como eu não sou uma pessoa que me exibo ou fico tirando foto, eu sou muito discreta, e talvez as pessoas não tivessem percebido essa mudança. Mas com a Marisa acaba expondo isso. E eu acho que as pessoas repararam isso agora. Mas não é uma coisa de agora. Estou vivendo essa fase aqui.”

Já te perguntaram como é viver uma periguete de meia idade, como você encarou isso?

“Na verdade não chocou pra mim. Mas eu acho que a gente está vivendo um momento de transição muito forte dessa coisa das mulheres. Se você for matematicamente pensar, talvez a expectativa de vida seja 70 anos, se você for pensar, meia idade 35, ok. E qual o problema de falar meia idade? Nenhum. Isso é o pensamento lógico. Agora, vamos entender como as pessoas da sociedade analisam. Entendem como a mulher que já está saindo do jogo da mulher exuberante, já está tendo outro olhar da vida, o início de uma terceira idade. Você colocar isso para uma pessoa de 35 anos é uma maldade. Tem mulheres de 65 que ainda são completamente exuberantes. E a gente está vivendo um momento de libertação da mulher.”

Você está com 35 anos, e agora separada, em que lugar está à maternidade para você?

“A maternidade é uma coisa que eu acho muito importante, na minha opinião, eu acho que é uma experiência muito bonita. A gente vive um período de muitas mudanças. É muito novo fazer a escolha se quer se mãe se não quer. Eu tenho vontade sim, eu acho uma experiência muito bonita. Entendo completamente quem não queira ter filho porque é uma experiência muito difícil, de muita generosidade e você realmente tem que abrir mão de muitas coisas. Eu trabalho com interpretação desde os nove anos, mas eu só vim ser conhecida do grande público lá pelos 30. Só que é uma carreira de muita ralação. E aí quando começou a abrir a porta do pessoal conhecer meu trabalho, tanto tempo investindo, vou aproveitar essa onda. Mas assim, ainda tenho vontade. Dos 30 aos 40 tem a fase cronológica aí, mas pra mim ainda tem um tempo, ainda estou pra jogo (risos), ainda tem esse tempo biológico, mas hoje tem histórias tão bonitas de adoção. A Alexandra Richter, por exemplo. Existem milhões de alternativas hoje em dia.”

Você sente essa cobrança?

“A cobrança tem. Mulher tem cobrança em tudo que é lugar. A gente tá sempre errada o tempo inteiro, a gente tem que lidar com isso e ponto final.”

Como você analisa esse seu momento: fazendo sucesso na sua carreira e, ao mesmo tempo, passando por uma mudança na sua vida pessoal. Como é que você define isso?

“Agradeço pelo sucesso, mas eu não vejo a coisa dessa forma. Eu trabalhei muitos anos, dos 20 aos 30, eu bati muito com a cabeça na parede e então eu acho que eu fui vacinada com muitas coisas, e eu também tenho uma personalidade que não se encanta muito com isso, eu sou completamente apaixonada pelo ofício. Eu sei disso porque eu já fiz outra coisa. Eu fui produtora muito tempo. Eu resolvi produzir para ter o meu trabalho como atriz. Chegou uma hora que o trabalho de produção, que era pra pagar conta, me engoliu, porque realmente era o que dava dinheiro. E teve uma hora que eu tive que abrir mão disso. E me jogar no abismo pra fazer o que me deixa feliz. Então eu realmente sei que eu amo isso e que isso me faz muito feliz. Claro que o retorno do público é de um prazer sem igual. Em relação às outras coisas da vida, é assim mesmo. Tem horas que a maré tá turva, tá mais puxada. Uma vez eu ouvi uma coisa que eu achei interessante: aprender a viver é a imagem da pessoa boiando no mar, tem horas que o mar está agitado, às vezes está calmo. O importante é você saber boiar nos dois momentos, em diversas marés. A vida sacode, a vida melhora e você tem que manter o mesmo espírito brando.”

Foram quantos anos juntos?

“Doze anos, honestamente não chegou nada desse jornalismo que você disse. Inclusive eu acho que esse processo foi de um respeito, de um carinho que eu falei ‘nossa que coisa legal’. Isso eu acho que é um reflexo de como a gente está lidando com isso. A gente é muito respeitoso. E a gente é muito reservado, sempre foi.”

E o que a gente pode esperar da Marisa nos próximos capítulos?

“A Marisa é apaixonante. Eu acho que ela vai enlouquecer bastante. Ela já vem dando com a cara na parede. Eu acho que o processo é esse.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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