“A gente luta contra rótulos”, revela Nívea Maria sobre ser considerada a dama da dramaturgia

Publicado em 28/01/2017

No ar em Sol Nascente, Nívea Maria foi entrevistada pela equipe do Observatório da Televisão. A atriz, que interpreta Mocinha na novela das seis, contou à reportagem como foi a reação ao receber o convite para participar da trama.

Além disso, Nívea disse como lida com os rótulos na TV brasileira e como é contracenar com Laura Cardoso, a grande vilã de Sol Nascente.

Confira o bate-papo:

Participação em Sol Nascente

“Eu realmente foi pega de surpresa com esse convite para participar dessa trama. E, continuo me surpreendendo até hoje. A entrada desse personagem nessa novela deu um ‘plus’ a mais a trama. Eu estou fazendo um personagem muito diferente do que eu costumo fazer. Com uma linha de humor, que fazia tempo que eu não fazia e com uma maldade meio brincalhona. Já que estamos vendo muitos personagens negativos dentro da dramaturgia brasileira. Então, quando eu entrei em ‘Sol Nascente’ eu pensei em exatamente nisso. Em fazer uma bandida simpática. Já que tinha dentro do folhetim, o personagem de Laura Cardoso, que tem um carisma muito grande. Eu não queria trazer as mesas características da personagem da Laura. Então, eu trouxe um pouquinho de humor nela, um pouco de sensualidade. A Mocinha é um leque aberto. Ela tem tudo. Eu ainda não sei que caminho ela vai. Eu estou adorando fazer. Estou curtindo. Ela é uma personagem com muita energia. É muito bom mostrar uma mulher com 70 anos, com muita energia, com sagacidade, com inteligência, articulada. Para mostrar que a gente não é só aquela vovozinha que pega a criança no colo e tudo mais. Ela é colorida! É um personagem com vários tons. Mas o Tanaka (Luis Mello) pode transforma essa personagem sim.”

Personagem revigorante:

“Todos os trabalhos são revigorantes para mim. Eu acho que isso é muito importante. Eles sempre foram revigorantes em minha vida. Tenho 54 anos de carreira, e todos foram importantes. Mesmo não sendo personagem central de uma trama. Eu sempre procuro criar um personagem grande na história dele. Um protagónico de sua história. Sempre fiz isso. Então, é nesse ponto que ele é revigorante. É nesse ponto que eu conquisto essa longevidade da minha carreira. Qualquer personagem eu faço ele se tornar importante. E, eu faço isso em respeito ao público que me acompanha há tantos anos. Que aceita, que reconhece o meu trabalho e que é muito carinhoso comigo. Ao lado disso, eu acho que é a função do ator quando cria um personagem e vai fazer um trabalho. Isso é sempre muito importante. A gente tem nessa novela, aquilo que a gente tem visto no nosso cenário politico. Mulheres trambiqueiras, políticos mentirosos, enfim. A dramaturgia serve para mostrar isso.”

Rótulos: 

“Olha, não posso dizer que eu não gosto de ser chamada de dama da dramaturgia brasileira. A gente luta contra os rótulos. Em vez de verbalizar que eu não gosto de rótulos, eu através do meu trabalho venho lutando contra rótulos desde quando eu comecei. Eu comecei como uma mocinha, romântica, sonhadora, doce, meiga, nas adaptações de romances brasileiros no horário das seis. Elas eram tidas como as heroínas românticas de novela. Eu já estava rotulada ai. Então, coube a mim durante esses anos, reivindicar personagens diferentes. O que eu consegui há muitos anos atrás com ‘Dona Xepa’, que eu fiz a antagonista. O que eu consegui na ‘Casa das Sete Mulheres’, que eu fazia uma mulher amarga, uma mulher má. Enfim, entre outros trabalhos. Fiz muito humor, e, sai um pouco da fina, da elegante, da chique. As pessoas acham que eu sou muito elegante e muito bem vestida. Mas já fiz pobre. Em ‘América’, eu fazia uma mulher de beira de rio. A função é nossa como atriz, dentro do oficio, de não brigar, mas de tentar mudar esses rótulos. Então eu posso ser tudo. Eu posso ser rotulada de tudo. Entendeu? Eu não brigo contra isso não. Eu acho ao contrario, que é sinal que eu estou sendo focada, estou sendo focalizada e discutida. Eu volto a dizer que é uma missão da gente. A gente precisar arcar com aquilo que vem junto dessa missão. Quanto no fracasso, quanto no sucesso.”

Personagem especial:

“Sempre eu procuro dizer que a vida profissional, corre com a minha vida pessoal. Então, alguns personagens são especiais por causa dos meus momentos pessoais. Então, ‘A Casa das Sete Mulheres’, eu fiz ali um resgate do prazer de interpretar. Porque eu vinha repetindo os personagens que me davam. Na ‘A Casa das Sete Mulheres’, eu tive a oportunidade disso. Eu passava por um momento delicado em minha vida pessoal. E, me reinventei para fazer o trabalho. Todos são especiais de alguma forma.”

Feminista:

“Eu acho que sim. Por continuar nessa carreira, eu acho que sim. Dentro do meu trabalho, dentro da empresa que eu trabalho, nas outras que eu trabalhei também. Não só por mim. Mas por todos os outros profissionais. O nosso trabalho é de equipe. Não só no cinema, como no teatro e na televisão, você não trabalha sozinho. Qualquer forma de brigar pelo outro ou por si mesma, é uma forma de ser uma pessoa ativista. Não vou dizer feminista. Mas uma pessoa ativa dentro de sua profissão. Eu acho que todos nós devemos ser. Não só por ser mulher, qualquer profissional dentro de sua área ele tem o direito de levantar o que não está certo, ou o que precisa ser consertado dentro de sua rotina de trabalho.”

Ator deslumbrado no início da carreira:

“Olha, vocês vão me desculpar. Mas vocês da imprensa são um pouco culpados por isso. Assim que vocês tem o respeito por mim e por todas essas atrizes renomadas que você citou. Vocês vêm nos procurar em função do nosso trabalho. Parte da imprensa procuram os novos atores, os novos profissionais, por causa de vida pessoal, de glamour, da vida, de roupas, de trabalho, de figura, de estética. No começa da carreira, a gente não tinha isso. Os colegas de vocês do passado, eles vinham para saber do nosso trabalho. Da forma que a gente executava o oficio. E hoje é diferente. Claro que quando você e jovem, tem outro tipo de energia, outro tipo de ilusão, não só nessa profissão, acho que em, qualquer outra profissão. Se alguém continuar alimentando isso, ela não consegue ver a realidade das coisas. Cabe à gente, os experientes, pedir a essa galera para baixar um pouco a bola. E não é isso. Isso não é eterno. Isso pode parar. Ainda mais em nossa profissão que é muito instável. Estamos passando por um momento de instabilidade total. Às vezes pessoas com talento estão encostadas em todas as áreas. O importante para todos nós é baixar um pouco a bola. Ter um pouco mais de calma. A tecnologia nos acelera. Ficar falando isso também, eu tomo cuidado para não me tornar uma pessoa chata. Tudo pra mim está sempre ótimo. Se eu não olhar para o mais jovem, eu estou ferrada. Eu preciso me atualizar também. Se não, eu paro no meio do caminho. O mais jovem, eu digo até os meus netos. A criança traz uma informação que o adulto não tem tempo de pensar em realizar. As vezes ele trás a solução para uma coisa que você não percebe na correria da vida. É isso.”

Nívea Maria e Laura Cardoso (Divulgação)
Nívea Maria e Laura Cardoso Divulgação

Laura Cardoso, inspiração:

“Ela me inspira muito. Eu fiz um ano e meio de teatro com a Laura Cardoso. Ela é surpreendente quando abre as cortinas do teatro, e, aqui, quando acende a luz da câmera. Ela pode estar com dor, ela pode estar passando mal, e ela consegue renascer naquela dificuldade e olhar para você e lhe dar força. Você saber que Laura gosta de você, já é uma grande coisa.”

10 anos da ‘Dança dos Famosos’:

 “A ‘Dança dos Famosos’ foi à oportunidade que eu tive de mostrar a Nivea Maria como ela é de verdade. Não a atriz, que o público já conhecia. O público me viu rindo, errando. Desmanchou aquela imagem glamourizada do ator. Viu a Nivea gente. Meu seio apareceu no ar. Tive um problema com a roupa. Mas não tive nem um pudor, nem nada. As pessoas foram tão respeitosas comigo. O Clodovil (ele fazia parte do júri) na época falou: ‘ainda é bonito’. E, eu emendei: ‘é meu! Esse não tem silicone não’. Mas a minha participação ficou marcado sim. Eu pedi para participação. É essa coisa minha de querer participar de tudo que é novo na televisão. Eu tenho a minha experiência. Mas eu quero tudo que é novo na TV.”

Antenada nas redes sociais:

 “Eu utilizo dentro da necessidade. Para ficar informada. Eu não sou antenada de rede social não. Eu prefiro sentar à mesa, olhar olho no olho e tomar uma cervejinha com uma pessoa e conversar assim.”

André RomanoENTREVISTA REALIZADA PELO JORNALISTA ANDRÉ ROMANO

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