“O jornal será comandado por mulheres”, afirma Aline Midlej sobre estreia na Globo News

Publicado em 12/09/2016

Desde pequena, o sonho de Aline Midlej era ser jornalista. Com o passar dos anos a profissional foi se aprimorando em um segmento que hoje a torna especialista no assunto: O público feminino.  Graças a uma série especial focada no Dia Internacional da Mulher, Midlej conquistou o prêmio Vladimir Herrzog, um dos mais importantes da categoria.

Aline já viajou pelo continente africando pela TV Brasil, onde apresentou o programa “Revista Nova África”, e conseguiu entrevistar com exclusividade a primeira mulher africana a conquistar o Prêmio Nobel da Paz, Wangari Maathai. Na Record, foi produtora e repórter. Depois, migrou para a Band, onde se tornou âncora do Café com Jornal. Com as reformulações no noticiário, voltou a ser repórter especial do Jornal da Band.

Agora, Aline estreia à frente do Edição das 10h, direto de São Paulo, pela Globo News. O jornal, antes apresentado por Raquel Novaes e Luciano Cabral, passou por ajustes, ganhou mais interatividade e tempo no ar. E contará apenas com mulheres em sua apresentação.

Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, Aline Midlej faz um balanço da carreira, das viagens que fez pela África, das reportagens focadas nas mulheres e a violência recorrente e dos desafios na nova Casa: “O jornal será comandado por mulheres. Acho que acontece pelos talentos e não pelo fato de sermos mulheres, e isso é ótimo. É a nova realidade”, afirma a âncora nascida em São Luiz (MA).

Confira: 

Por que você escolheu ser jornalista?

Comunicação sempre foi algo natural e espontâneo pra mim, desde criança. Época em que também já amava ler e tinha um sentimento de justiça imenso. Tudo isso somado a curiosidade por pessoas e suas histórias, pronto. Nunca tive dúvida do que queria fazer.

Quais os maiores desafios que já enfrentou na profissão por ser mulher e negra?

Ser mulher já é difícil, ser mulher e negra é um caminho que demanda uma força ainda maior. O preconceito está aí – infelizmente me parece mais forte e velado – mas o desafio maior talvez comece dentro de você mesmo. Começando por não se sentir diferente, valorizando suas particularidades e história. Isso transforma você e o ambiente em sua volta. A gente carrega nossas vivências com a gente e isso sempre vai ter uma influência sobre o que fazemos e produzimos. Acho que essa condição me deu mais garra e maturidade.

Quais as profissionais da TV que sempre foram as suas referências?

Neide Duarte, Glória Maria e Christiane Amanpour (âncora da CNN).

A mídia de um modo geral passou a dar mais visibilidade para profissionais como você, Maju, Joyce Ribeiro, Glória… Como explica essa mudança e o quanto ela impacta na vida de milhões de mulheres pelo Brasil afora?

Não acho que a mídia passou a dar mais visibilidade. Estávamos aí, batalhando como todo mundo, fomos aumentando em número e, naturalmente, ganhamos espaço pelas nossas qualidades e talentos. Isso abre um precedente super importante e é assim que se muda a história.

Pela TV Brasil você fez uma série de reportagens pelo continente africano, entrevistou a primeira mulher africana a ganhar um Nobel da Paz, Wangari Maathai. Ir ao continente fez você rever conceitos, comportamento e ideais? O que trouxe na sua bagagem – em termos de experiência de vida – que não vai esquecer nunca?

Passar todo esse período na África, fazendo coberturas tão especiais, foi um divisor na minha carreira. foi neste momento que formei minha base e tive certeza do tipo de jornalismo que queria fazer. E isso significa pensar em jornalismo como um trabalho que sempre tratará de pessoas, de gente. Na África aprendi que a humildade é uma companheira indispensável para o repórter. Na vida pessoal, aprendi a reclamar menos e me fortalecer nas minhas raízes.

Em 2008, você ganhou o prêmio Vladimir Herzog por uma reportagem focada no Dia Internacional da Mulher. Agora, pelo Jornal da Band, você voltou a tocar no assunto em uma série especial abordando a violência que milhares de mulheres sofrem diariamente. Por que retomou o assunto?

A questão feminina é uma constante pra mim. Como mulher e profissional que teve o privilégio de estudar o que sonhava, falar do assunto é algo fundamental. Precisamos falar sobre violência contra mulher o tempo todo porque a prática está normalizada na nossa sociedade. Além disso falta educação, a principal arma para a mulher fugir dessa violência.

Como foi o processo de pesquisa e o quanto as histórias mexeram com você? Chegou a se emocionar com os relatos? No site da Band é possível ver que o vídeo com o maior número de visualizações – em 10/09 – é o que retrata o assédio em transporte público com 2.824 visualizações, enquanto os demais que focam a violência em casa e nas ruas (estupro) alcançaram até hoje 400, respectivamente. O que isso significa? O tema precisa ser discutido com maior visibilidade? 

Acho que, neste caso, estamos falando do que parece ter mais “apelo” televisivo. O transporte público é um ambiente mais próximo da população em geral, sempre trazemos imagens de flagrantes e isso atrai. Mas, sem dúvida, há temas mais tabus como o estupro que, pra mim, é o tipo de violência mais negligenciado no país.

Ter vencido um dos principais prêmios do jornalismo com uma reportagem focada nas mulheres foi o reconhecimento de um trabalho?

Costumo dizer que prêmio é legal, um super reconhecimento. E ponto. Tem muito trabalho sensacional sendo publicado que não esteve entre os vencedores. E vencedores que, na minha opinião, não eram os melhores. Então acho isso muito subjetivo. Mas, claro, é ótimo!

Carrega consigo a responsabilidade de levar informação e “defender” direitos humanos como forma de exercer a sua profissão com êxito?

Sem dúvida. É uma missão.

Aline Midlej
Aline Midlej passou pela Band onde apresentou o Café com Jornal e agora está de mudança para a Globo News

Como você se sentiu quando foi afastada da bancada do Café com Jornal? Qual foi o real motivo de sua saída e retorno para a reportagem?

O Café com Jornal foi uma experiência maravilhosa. Foi um ano de muito aprendizado e desenvolvimento. Ali me conheci “âncora” e descobri meus talentos e diferenciais. É isso que levo. Por questão de enxugamento, todos acompanharam, o jornal precisou se adaptar e havia uma demanda para que eu voltasse ao Jornal da Band, minha antiga casa. Fui numa condição de repórter especial e fiz muita coisa que me orgulhou nesse período. Vejo dessa forma: ciclos.

Ter deixado a bancada do Café com Jornal pesou na motivação para você buscar outras oportunidades fora e agora deixar a Band?

Eu não busquei, o convite partiu da Globo News.

Você já foi estagiária da TV Globo enquanto era estudante de jornalismo, e agora está de volta como âncora de um dos principais telejornais da Globo News, o Edição das 10h. Como surgiu essa oportunidade e como você avalia o seu retorno?

A Globo News me procurou depois de ter acompanhado meu trabalho na Band. A sensação é de “volta” mesmo. Voltar depois de 10 anos traz a sensação de começar um novo e especial ciclo na carreira.

O quanto você amadureceu desde a época do estágio? O jornal será apresentado apenas por mulheres agora. Qual o impacto desta mudança?

Nesses dez anos me formei mulher e jornalista. E, sim, o jornal será comandado por mulheres. Acho que acontece pelos talentos e não pelo fato de sermos mulheres, e isso é ótimo. É a nova realidade.

Aline Midlej forma dupla com Raquel Novaes na Globo News
Aline Midlej forma dupla com Raquel Novaes na Globo News

Já foi ao estúdios do Rio de Janeiro conversar com a equipe? Gravou pilotos? Está ansiosa? Conte um pouco como será seu trabalho na nova casa:

Sim, a equipe está super azeitada. Estive no Rio para conhecer toda a equipe, gravamos pilotos… O novo edição das dez vai até o meio-dia, com mais dinamismo e interação. A Raquel [Novaes] é uma pessoa incrível e muito generosa, a sintonia está boa. Acho que as pessoas podem esperar um jornal com a missão de fazer todo mundo começar o dia melhor e mais bem informado. Vamos nos construir no dia-dia com muito trabalho e paixão pela notícia.

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