Miguel Falabella pensa em abandonar carreira de ator: “Acho que não volto mais”

Publicado em 28/09/2015

O diretor, autor e ator Miguel Falabella lançou a quarta temporada do seriado Pé na Cova e em uma conversa franca com o Observatório da Televisão, o loiro, comentou que pensa em abandonar a carreira de ator e declara que sua função na terra é de trazer alegria para o povo.

Veja: Nova temporada de Pé na Cova vem com novidades

Confira o papo:

O programa fala de temas difíceis. Como você condenssa esses enredos?

“No inicio, muita gente não queria assistir por causa de morte e tal. Mas, virão que isso é apenas um detalhe. Eu nunca me sinto chateado quando as pessoas falam que eu estou copiando, isso ou aquilo. Não existe isso. São homenagens. Se a pessoa está tentando fazer parecido é uma homenagem. Quando eu lancei o besteirol lá atrás. Após o sucesso, todo mundo foi fazer besteirol. Eu acho que o Pé na Cova tem esse diferencial. Eu desde o inicio quis fazer. Vivemos em um país muito intolerante  pela falta de educação de base. A nossa civilização caminha a passos muito lentos. As conquistas de direitos humanos e de cidadanias são lentas. Eu acho que você mostrar uma família com um patriarca, que exerce a tolerância em seu dia a dia. O Russo é um preconceituoso, um careta. Que tem uma filha lesbica. É uma forma de discutir o preconceito e ele se dissolve no afeto.  Ele fala horrores para o Tamanco (Mart’nália). Mas, ele adora o Tamanco. Ele é um cuidador na verdade. Eu sou suburbano. Fui criado dessa maneira. E, vi a solidariedade que existe no subúrbio.”

Hoje, você mora na Zona Sul do Rio de Janeiro. Você vê algum tipo de diferença?

“Com toda certeza! Eu nem sei quem são os meus vizinhos. Eu dou bom dia no elevador, quando os vejo. Não tenho nenhuma relação com eles. E, tenho amigos de uma vida inteira da Ilha do Governador. Meus amigos mais próximos são da Ilha. Sem dúvida nenhuma. Que jogavam bola de gude comigo na rua.”

Em sua opinião, para onde o humor no Brasil está indo?

“Eu não sei para onde o humor está indo. Mas, eu sei para onde eu estou indo (risos). O humor eu não sei. Eu não julgo as pessoas. Eu vejo muito pouco à televisão. Eu não tenho tempo na verdade. Eu faço um espetáculo em São Paulo e gravo o Pé na Cova, aqui no Rio de Janeiro. E, ainda escrevo. Imagina a correria?”

E, para onde você está indo?

“Como ator eu não sei. Acho que não volto mais. Só se for algo que eu queira muito. Eu acho que o ator Miguel Falabella rouba muito tempo do autor, um tempo muito precioso.”

E, como autor?

“Nossa! Eu estou aprontando muita coisa. Eu estou escrevendo umas coisas muito legais.”

E, novela?

“Nada de novela! Eu não gosto de novela. Acho que essa coisa de você se forçar me irrita extremamente. Fora que é um trabalho massacrante. Eu sou um homem de diálogo, eu gosto de um diálogo bordado.  E, novela tem uma hora que você precisa se forçar para cuspir um adjetivo. A grandes novelas no ar. Gosto muito dessa das seis, Além do Tempo. Acho uma graça. Escrever novela não é o que me dar mais prazer. Eu cheguei  a um ponto de minha carreira que eu posso escolher o que fazer.”

Em Pé na Cova existe um relacionamento entre duas mulheres. Como você viu o boicote em relação ao beijo de duas senhoras em Babilônia?

“Eu não sei! Eu não acompanhei muito. Eu soube dessa polemica da Fernanda Montenegro e Nathália Timberg. Eu acho que tudo é uma questão de educação. A gente ainda tem muito para avançar. O respeito ao próximo ainda tem que ser conquistado. Não é uma coisa de hoje para amanhã. Que a gente vai conseguir. O meu direito acaba quando começa o seu. Então… Eu acho que está mudando muito. Eu vejo em São Paulo, principalmente na área que eu moro, ali no Jardins, Zona Sul de São Paulo, todo mundo anda de mão dada. Se abraçam e se beijam na rua.  Homens e homens e mulheres e mulheres.”

A série foi lançada no subúrbio. Faz muito tempo que você não vinha aqui?

“Imagina! Eu ando isso tudo. Eu não saio da casa da Antonieta Costa (Nieta), minha amiga, que mora em Cordovil, Zona Norte do Rio de Janeiro.”

O seriado A Vida Alheia está fazendo um grande sucesso no canal Viva. Você pensa em escrever algo parecido?

“Pois é! É o que eu comentei. Talvez se eu tivesse escrito a série hoje em dia, ele teria tido mais sucesso. Enfim, está feito”.

Intimida um pouco o autor ser o colega de cena?

“Não! Pra mim é ótimo! Que eu falo logo onde está errado. Até a Marília Pêra eu falo. Mas, ela não precisa. Ela aceita imediatamente. Ela é incrível.”

Você já fez muita coisa na televisão. Mas, o que ainda falta?

“Eu não sei. Eu tenho tanto projeto na empresa. E, não sei qual deles vai ser aprovado. Ou se nenhum será aprovado.”

O paparazzo incomoda você? E, dia desses saiu uma nota que você estava deprimido por causa do adiamento do seriado. Como você lida com essas notas?

“Não me incomoda não. Nada, nadinha! A notinha não é mentirosa não. Eu estava deprimido sim. Não foi mentira. (risos).”

Como é o Miguel Falabella fora de cena?

“Eu sou uma pessoa que falo muito com as pessoas. Eu sou estrela na hora de dá piti. No meu dia a dia eu não sou. Falo com todo mundo.”

Como está sendo trabalhar com essa nova geração de atores?

“A vida tem me dado grandes presentes. Primeiro foi o Daniel Torres, que começou comigo bem novinho e que se tornou esse grande ator. É algo paternal. Eu vi todo o crescimento dele. Já o Gabriel Lima, me emociona profundamente, pois é um encanto de menino e é muito talentoso. Ele entra na brincadeira com muita alegria. Eu sempre digo para ele, que ele está na melhor escola. Mando-o observar tudo. A gente aprende no trabalho. No dia a dia. Eu aprendo todo dia. Eu aprendo até hoje. Eu estou quase tomando o caminho da roça. Mas, ainda estou aprendendo. O Pé na Cova é uma experiência feliz no seu fazer. E, eu acho que essa felicidade de alguma forma chega ao público. O teatro me ensinou isso. Se você não tem uma boa cuxia, dificilmente você terá algum sucesso. A harmonia que você consegue em uma cuxia ou em um estúdio de gravação, de alguma forma você leva para o produto final. E, é isso que é o Pé na Cova na verdade.”

Hoje, presenciamos o sucesso da personagem Bá (Niana Machado). Todo mundo gritava o bordão dela: ‘piranha!’. Você imaginava que ela fosse se tornar esse sucesso?

“É tudo uma questão de olhar. E, meu olhar não é padrão. Eu me interesso por gente.  Eu não me interesso por cabelos, trajes e maquiagens. Eu me interesso por seres humanos. E, efetivamente,  eu Miguel, me interesso por gente.  A Niana tem uma história comigo muito legal. Uns dos últimos episódios do Toma Lá, Dá Cá, ela fazia uma figuração.  E, ela fazia uma mulher que invadia o nosso apartamento e metia pancada no meu personagem. Ela me comeu de pancada. E, o público enlouqueceu. E, eu disse que queria essa mulher na minha vida.  Ela fez Aquele Beijo, fazia a costureira chamada Formiga, conhecida pelo bordão ‘Eu já morri!’. E, veio a Bá de Pé na Cova que é uma consagração para ela. E, eu fico muito feliz por isso.”

Você imaginava de mudar a vida dela também?

“Não imaginava. Na primeira temporada, ela foi muito boicotada. Foi totalmente cortada. Que diziam que o público iria rejeitar. Que não era possível isso. Eu disse: ‘vocês estão doidos? É o Brasil!’ Mas, ela foi muito cortada na primeira temporada. Acharam que não era padrão. Mas, eu disse: ‘é o meu padrão!’.  Cagu**… Deixa o público ver se gosta ou não. Deixa o público responder a isso. E, quando permitiram, as pessoas adoraram.”

O seu último seriado, Sexo e as Negas, foi bastante criticado. Você pensa em uma segunda temporada?

“(irritado) Esse assunto já foi. Isso para mim, já foi. Está enterrado, morto. Mais do que resolvido.”

Como você está se sentindo de apresentar o primeiro episodio do seriado Pé na Cova, em uma Lona Cultural em Irajá?

“Eu que escolhi para ser aqui. Eu faço o meu trabalho para dar alegria para o povo. Eu sempre fui popular. Segui esse caminho. Escolhi o caminho do popular. Sempre gostei de falar com o público. Até quando eu fazia o Caco Antibes, eu tinha uma relação muito forte com o público. Ainda que o Caco odiasse pobre. Eu sempre acho, que quando a costura é de afeto, as coisas são entendidas e admiradas. É o afeto na verdade. Ele muda tudo.”

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