A Dona do Pedaço acerta com núcleo cômico cheio de veteranos

Publicado em 27/06/2019

Um dos grandes trunfos de A Dona do Pedaço, atual novela das nove da Globo, é o bom espaço dispensado aos atores veteranos. A novela de Walcyr Carrasco conta com nomes do naipe de Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Rosamaria Murtinho, entre tantos outros. Com tantos talentos à disposição, o folhetim se seu ao luxo de criar um núcleo cômico apenas com atores tarimbados, encabeçado por Marco Nanini e Betty Faria, numa trama paralela que vem rendendo momentos bem divertidos.

O núcleo em questão é formado por uma família de sem-tetos que vive, há anos, numa casa invadida. O clã é composto por Eusébio (Marco Nanini), o patriarca, e sua esposa Dorotéia (Rosi Campos). Além de filhos e sobrinhos, a família é composta também por Cornélia (Betty Faria), a mãe (ou irmã?) de Eusébio, e seu marido Chico (Tonico Pereira). Também participam do cotidiano desta família a vizinha, Marlene (Suely Franco), e o advogado Antero (Ary Fontoura). Recentemente, o núcleo também ganhou a participação de Dinorá (Berta Loran).

Este grupo de personagens caracteriza-se pela postura quase surreal diante da vida. Completamente disfuncional, a família vive de pequenos golpes, incluindo aí “assaltos” à dispensa da vizinha. Assim, com muitas situações non sense, o clã coloca estes grandes nomes da televisão brasileira proferindo verdadeiras pérolas, deixando-os livres para se divertirem em cena. Há uma troca muito interessante entre eles, e é impossível não rir das trapalhadas do grupo.

Experiência que faz diferença

Um núcleo cômico como este, que consiste em reunir um grupo grande de pessoas dividindo um espaço limitado, é sempre arriscado. No entanto, em A Dona do Pedaço, a história funciona, sobretudo, em razão da escalação dos atores. Afinal, Walcyr Carrasco não é nenhum gênio do humor, e costuma fazer graça diante de situações um tanto simplistas. Mas, na boca destes veteranos, seu texto ganha vigor, e o que poderia ser constrangedor se torna verdadeiramente cômico.

Um exemplo claro disso é a sequência recente na qual Eusébio participa da exumação do corpo de seu pai. Ele aparece chorando e gritando “papai”, enquanto se agarra nos restos mortais do falecido. Depois, envolve-se numa briga com o irmão Eustáquio (também Nanini) por causa de um osso, e os dois caem na cova. Ou seja, uma situação bem pastelão e sem grandes arroubos de criatividade. Mas a performance de Nanini, lembrando dos tempos de TV Pirata, transformou a sequência numa gag impagável.

Química

Ao mesmo tempo, a química vista em cena também faz com que o núcleo se engrandeça. Marco Nanini está em sintonia fina com Rosi Campos e Betty Faria, fazendo parcerias muito ricas. Além disso, a chegada de Berta Loran veio coroar o núcleo com ainda mais humor. Ou seja, trata-se de uma escalação de elenco muito feliz.

E tudo isso muito bem dirigido pelas mãos de Amora Mautner. A diretora fez história em Avenida Brasil, onde deixava soltos os atores que participavam do núcleo Tufão. Agora, exerce algo semelhante aqui, criando conversas e ruídos para que a cena ganhe substância. Além, claro, de deixar seus atores brilharem. Deste modo, o núcleo cômico se coloca como um dos melhores momentos de A Dona do Pedaço.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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