Com Assédio, Globo reserva novas experiências ao GloboPlay

Publicado em 16/10/2018

A teledramaturgia da Globo vive uma fase de contrastes. As tradicionais novelas optam por narrativas cada vez mais simples (algumas até simplórias). Já as minisséries e séries semanais, antes um espaço para experiências, perderam espaço na grade. Assim, novas narrativas, em estética e conteúdo, ficam relegadas a poucas produções. Em contrapartida, o GloboPlay vem se desenvolvendo no sentido de ser um novo espaço para experiências em teledramaturgia. E Assédio deixa isso claro.

A minissérie teve seu primeiro episódio exibido pela TV Globo na noite de ontem (15), em caráter especial. A produção, desenvolvida exclusivamente para o serviço de streaming, mostra que o GloboPlay é o novo espaço para experiências da emissora. Não que o canal aberto do Grupo Globo não tenha exibido minisséries semelhantes. Mas é evidente que a emissora busca ampliar seu alcance. A ideia é conquistar um público que não acompanha sua programação tradicional.

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E Assédio tem esse apelo. Inspirada no livro “A Clínica – A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, a série escrita por Maria Camargo e dirigida por Amora Mautner, é um esmero em todos os sentidos. A produção conta a história de Roger Sadala (Antonio Calloni), um famoso e respeitado especialista em reprodução humana que abusa sexualmente de várias de suas pacientes. Assédio faz um painel da jornada deste personagem, do apogeu à queda. Paralelamente, mostra o trabalho da jornalista investigativa Mira (Elisa Volpato). Ela contata um grupo de mulheres abusadas pelo médico e passa a investigar os casos.

Tema atual

Sendo assim, a temática de Assédio é bastante oportuna em tempos em que a discussão sobre a cultura do estupro está na ordem do dia. E a minissérie acerta ao trazer o ponto de vista feminino. Ela mostra, com muita competência, as devastadoras consequências de um abuso sexual na vida de uma mulher. A abordagem ganha credibilidade, tendo em vista que é inspirada num caso real. Além disso, esclarece e faz refletir, sem ser nem um pouco didática. Ao contrário. O texto é perturbador e envolvente.

Assédio tem formato para maratonar

Fugindo de qualquer vício de novela, Assédio tem uma narrativa não-linear que traz muito pouco de uma atração televisiva tradicional. Ou seja, não é simplesmente uma produção da Globo exibida pela internet. Na verdade, é um produto pensado para a plataforma ao qual é exibida.

Por isso mesmo, os primeiros episódios fogem da obrigação de oferecer ganchos poderosos. Ao contrário. Assédio começa quase como uma colcha de retalhos, com situações quase isoladas, dentro de um vai-e-vem temporal. Apenas entre o terceiro e quarto episódio as histórias começam a se unir e ganhar ritmo. Ou seja, a trama foi pensada para um público acostumado a assistir séries numa tacada só. “Maratonar” Assédio amplifica a experiência de assisti-la.

Ao exibir o primeiro episódio de Assédio na TV aberta, a Globo mostra que não medirá esforços para emplacar sua plataforma de streaming. A experiência se junta à exibição de The Good Doctor na Tela Quente e à criação do Cine GloboPlay, com a exibição de filmes disponíveis no serviço. Tais fatos são, na verdade, grandes propagandas do GloboPlay. Ao mostrar, na TV, o primeiro episódio de Assédio, a Globo quer instigar seu público a acompanhar a série, tentando angariar novos assinantes. É uma experiência válida.

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