Em cobertura do incêndio no Museu Nacional, jornalismo da TV aberta tem noite patética

Publicado em 03/09/2018

Quem gosta de notícia, sabe que no jargão jornalístico uma notícia “urgente” é capaz de derrubar todo um programa. Se ele for um jornalístico então, isso vira praticamente uma obrigação.

Em TV aberta, na teoria, devia ser uma regra. Entretanto, não foi o que se viu nesta noite de domingo (2). Nesta noite, o Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do Brasil, pegou fogo. Além disso, o palácio onde está o Museu serviu de morada para a família imperial brasileira. Eram 20 milhões de itens.

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No entanto, a má conservação do local fez com que um incêndio de grandes proporções lhe atingissem. Tudo isso se perdeu num mar de cinzas que levou a história do Brasil para o fogo.

Só pelos motivos acima, a notícia já valeria uma cobertura ao vivo mais aprofundada e bem feita pela TV aberta. Mas não foi bem isso o que nossos queridos diretores de jornalismo e chefes de redação pensaram.

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Como foi, em detalhes, a cobertura do incêndio no Museu Nacional

Como todos sabem, duas das maiores emissoras do Brasil exibem no horário nobre – o incêndio começou por volta das 20h. A Globo entrou com Lília Teles ainda no “Domingão no Faustão”, mesmo que rapidamente. O problema veio depois.

Na Record, o “Domingo Espetacular”, que entra no ar às 19h30, teve apenas imagens com narração de Janine Borba – uma única entrada com apenas 44 segundos. No auge das informações, o “DE” preferiu matérias bem interessantes sobre a novela “Jesus” e sobre ovos caipiras.

Imagem da Record cobrindo incêndio no Museu Nacional; nota durou 44 segundos (Reprodução/Record)
Imagem da Record cobrindo incêndio no Museu Nacional; nota durou 44 segundos (Reprodução/Record)

No “Fantástico”, apenas links rápidos com atualizações mais rápidas ainda sobre o incêndio. No entanto, uma reportagem sobre o fato da cantora Beth Carvalho ter feito um show deitada teve mais tempo do que a exibição de imagens e repercussão sobre o que acontecia no Museu Nacional.

Pior que isto foi a atitude de SBT, Band e RedeTV!. No canal do Patrão, nem um plantãozinho sequer. O “Programa Silvio Santos” continua intocável. A notícia só veio no “SBT Notícias”, com link de Daniel Penna-Firme. Notícia com delay é difícil.

Já a Band deu flashs no “Show do Esporte” e no restante da noite, mas preferiu continuar exibindo o reprisado “Todo Mundo em Pânico” e a “Fórmula Indy” em VT.

Por fim, a RedeTV! deu a notícia de forma primária dentro do programa “Encrenca” – com direito a moldura do quadro “Zap Zap” e tudo.

Lília Teles entrando ao vivo no Fantástico (Reprodução/Globo)
Lília Teles entrando ao vivo no Fantástico (Reprodução/Globo)

Jornalismo da TV aberta se mostrou despreparado para fato quente no fim de semana

Vale lembrar, no entanto, que no início dos anos 2000, o “Domingo Legal”, apresentado por Gugu Liberato no SBT, deixou uma lição valiosa – por mais que o programa usasse isso de forma sensacionalista e tosca -: notícia ao vivo no domingo tem que ser prioridade.

Contudo, não digo aqui que precisava derrubar todo o espelho do jornal. Mas o espaço dado para uma notícia grave desta magnitude foi vergonhosa e mostrou como a TV aberta não está preparada atualmente para algo do tipo.

Além disso, isso dá mote para o argumento que eu não concordo, mas reconheço que a TV aberta pede que se fale assim. No caso, os críticos dizem que a TV aberta é alienada, vive numa bolha e não passa a realidade do que acontece. Nesta noite, é impossível discordar. A TV aberta viveu numa bolha fora da realidade.

Basicamente, se você não faz parte do grupo dos 17,7 milhões de assinantes de TV paga e não tem acesso à Globo News – que novamente fez um trabalho brilhante -, teve uma dimensão diminuta e rídicula do que aconteceu. A TV aberta não é a rainha do serviço, mas nesta noite ela prestou um desserviço absurdo e que não pode mais ser tolerado.

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