Reprise de Vale Tudo no Viva traz de volta Paulo Reis: “A chance é de um sucesso enorme, por conta da atualidade”

Publicado em 25/06/2018

Mais de 40 anos de carreira no teatro, no cinema e na televisão como ator e diretor. Paulo Reis em breve poderá ser visto como Olavo em Vale Tudo, que o Canal Viva reestreou no dia 18. O personagem é parceiro de trapaças de César (Carlos Alberto Riccelli) na novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.

Não só rosto conhecido do público, como também dono de voz marcante. O ator foi bastante escalado para dar vida a homens fortes e autoritários. Até mesmo violentos. Um contraste com a personalidade educada, culta e agradável que ele apresenta a todos que podem conhecê-lo.

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Para Paulo Reis, Brasil mudou, mas menos do que se esperava há 30 anos

Nesses 30 anos desde a primeira apresentação de Vale Tudo, algo mudou no Brasil e no modo do brasileiro encarar as coisas? Paulo Reis acha que sim: “Houve mudanças, claro, mas infelizmente em número ou grau muito menor do que esperávamos e merecíamos. É até um pouco entristecedor olhar para trás e ver que todo o nosso esforço fez tão pouca diferença na sociedade brasileira. Mas também é preciso olhar para a frente e assumir que a luta continua. Na esperança de que dias melhores estejam por vir.”

Ainda, para Paulo, a “lei de Gerson” ainda vale. “Não é por outra razão que a novela será reexibida agora. E com chances de fazer um sucesso enorme, devido à sua atualidade. Além da qualidade do texto, da direção e das interpretações.”

Paulo Reis como Olavo em Vale Tudo Reprodução

Ao término da novela, Olavo é um dos personagens que pagam na cadeia por seus atos. Será que esse final se repetiria hoje, caso a novela fosse inédita, produzida para o público atual? “A prisão do Olavo foi um desfecho proposto por mim mesmo ao próprio Gilberto Braga. Em uma conversa durante uma festa, quando faltava cerca de um mês para o fim das gravações. Sugeri isso porque achei que a tendência era todos os demais vilões, com a exceção óbvia de Odete Roitman (Beatriz Segall), terminarem impunes. E que se alguém fosse preso a corda deveria forçosamente arrebentar do lado mais fraco. Ele teve a generosidade de concordar com minha sugestão. E todos vemos esse tipo de coisa continuar acontecendo até hoje em dia, lamentavelmente.”

Paulo Reis e um dissabor com a imprensa na época de Vale Tudo

Quando Vale Tudo foi reprisada pela primeira vez no Canal Viva, em 2011, Paulo Reis recordou um incidente bastante desagradável que vivenciou. Foi alvo da má-fé de uma jornalista que se aproveitou de uma informação para criar uma manchete falsa. Ele conta: “Na época foi algo realmente muito desagradável, em que fui vítima da minha própria ingenuidade e inexperiência. Mas não vilanizo a jornalista ou o editor, que se encontravam em uma situação profissional quase desesperadora. E que acabaram mais prejudicados do que eu próprio, pois ao invés de darem um ‘furo’ espetacular, acabaram dando uma ‘barriga’ fenomenal na primeira página. São águas passadas.”

Felizmente nada semelhante chegou a ocorrer de novo, conforme Paulo: “Pessoalmente não tive outras decepções assim, até porque gato escaldado tem medo de água fria, e hoje tomo muito mais cuidado quando digo ou escrevo qualquer coisa.”

Teria a forma da imprensa se relacionar com os profissionais de dramaturgia evoluído para algo respeitoso, detido no que importa? Embora haja os fofoqueiros e os criadores de fake news? O ator acredita que sim: “Hoje existe um respeito e uma atenção maiores ao que é realmente importante. Contudo, como em todo meio, na imprensa em geral há e sempre haverá profissionais mais ou menos escrupulosos.”

Paulo Reis como Eldade em Os Dez Mandamentos Divulgação

Novelas bíblicas: nenhum preconceito

Recentemente Paulo Reis esteve no elenco de Os Dez Mandamentos, de Vivian de Oliveira, na Record TV, no papel de Eldade. E elogia o filão bíblico das novelas. “Esse foi um personagem realmente querido, em um trabalho absolutamente inesquecível. Hollywood também produz sagas bíblicas há décadas, e eu cresci assistindo a todas, de forma que não tenho preconceito algum. Acho que é um gênero altamente respeitável, como tantos outros, em que o resultado só depende do enfoque que for dado à história. Além da qualidade dos elementos envolvidos, como texto, direção, elenco e equipe técnica. Tal como em todos os outros gêneros.”

Inclusive, como ator, Paulo Reis já interpretou tanto personagens de mau caráter quanto “caras legais”, policiais e juristas, empresários e militares… Mas ainda tem vontade de viver papéis que o desafiem em outros caminhos: “Nunca interpretei um padre, ou um pastor. Um paraplégico, ou um doente terminal. Um bêbado, ou um drogado. Pratos cheios para qualquer ator.” E dos tipos já vividos, além do sempre lembrado Olavo, quais agradaram mais? “Além do Guga Motta Mello de Rainha da Sucata e do Aderbal de Corpo Dourado, vou citar alguns dos mais recentes: o Silveira de Em Nome da Lei, o Augusto de Lúcia McCartney e o Biniek de Belaventura. Além de alguns em filmes ainda por estrear”, declara Paulo.

Paulo Reis como Biniek em Belaventura Reprodução<strong style=font size 15px color 222222> <strong>

Paulo Reis na Rede Manchete

Além de ator, na década de 1980 Paulo Reis estreou também como diretor na televisão. Foi assistente de Ary Coslov na minissérie Tudo em Cima e codirigindo episódios da série Tamanho Família, em 1985. Entre os autores, talentos do “besteirol” como Mauro Rasi e Vicente Pereira. Em tempos bicudos como os atuais, de politicamente correto imperando e mordaças cada vez menos sutis impostas à arte, produções com o viés dessas fazem falta na televisão? “Não sou nem um pouco saudosista, mas realmente sinto que faz falta uma programação como a da TV Manchete, que ao menos se propunha a fazer uma televisão classe A, e durante certo período abrigou algumas inovações como o Tamanho Família, um programa de que todo mundo queria participar. Já o clima politicamente correto é um tanto quanto entediante, admito, mas necessário, principalmente em sociedades retrógradas como a nossa”, expõe ele.

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Abaixo, “Acossado”, episódio de Tamanho Família escrito por Geraldo Carneiro e dirigido por Paulo Reis.

O “Pessoal do Despertar”

Em 2019, a montagem que Paulo dirigiu de O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind, e o grupo que ele fundou com a atriz Maria Padilha, o “Pessoal do Despertar”, completam 40 anos. “Talvez vejamos o Projeto Despertar Aos 40, com o lançamento de um livro, uma exposição fotográfica e um documentário televisivo sobre o trabalho do grupo. Torço muito para que os seus produtores consigam realizar o que idealizaram. E pretendo contribuir para isso com tudo que me for possível”, ele declara sobre a celebração da data.

Afinal, uma vez decorrido esse tempo, o que falta para um sentido diferente no trabalho em teatro, apesar das dificuldades financeiras? A diferença principal, na visão de Paulo, “não é artística, mas de produção, porque hoje existe algo que não existia na época: a renúncia fiscal via leis de incentivo. Isto mudou tudo, porque os grupos dependem de patrocínio. Seja governamental ou privado. E não de bilheteria, como nós antigamente. Hoje o panorama teatral está muito pulverizado, com maior quantidade de salas e menor duração das temporadas. Os grupos são inúmeros, com uma diversidade enorme, mas também com pouca longevidade.”

A esperança no futuro do teatro

Paulo Reis dirigiu por dois anos o Teatro Municipal Café Pequeno, no Rio de Janeiro, e relata ter havido algumas resistências a seu trabalho. “A equipe técnica que encontrei lá trabalhava junta havia muito tempo, e eu não tinha autoridade administrativa para alterar isso. Apenas autonomia artística para elaborar a programação. Então, no início, enfrentei certa resistência por parte de alguns funcionários, para intensificar a ocupação do espaço, dobrando o número de sessões diárias e exibindo uma quantidade maior de espetáculos. Isto implicava trabalhar mais, embora a carga horária total deles continuasse a mesma. Nada grave, porém… são ossos do ofício.”

Paulo Reis em registro de Roberto Wertman
Paulo Reis em registro de Roberto Wertman Divulgação

Apesar da ausência de tantas salas de espetáculos hoje no Rio de Janeiro e do descaso do governo com a classe teatral, Paulo vê esperança no futuro. “Cada sala que se perde é um oásis engolfado pelo deserto, mas outras salas virão. O descaso dos governos municipal, estadual e federal é uma burrice inominável. A arte educa ou civiliza os seres humanos com maior rapidez e menor custo do que qualquer outra atividade. Mas as eleições estão aí e em breve teremos outros governos.”

Além do trabalho na dramaturgia, Paulo Reis tem outra faceta, desconhecida do grande público: a de tradutor. Diversos romances de escritores premiados, expoentes de sua geração, ganharam os leitores em português graças a seu trabalho. “Alguns autores, tanto americanos quanto britânicos, que moram no meu coração. Tom Wolfe, Ian McEwan, Gore Vidal, Nick Hornby, Chuck Palahniuk e Irvine Welsh. Para citar os mais queridos”, aponta ele.

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