De Maria Machadão a Dona Nenê: A vitoriosa carreira da inesquecível Eloísa Mafalda

Publicado em 17/05/2018

Faleceu em Petrópolis (RJ) aos 93 anos a atriz Eloísa Mafalda, que estava aposentada e vivia com sua filha Miriam na cidade fluminense. Batizada Mafalda Theotto, ela nasceu em Jundiaí (SP), onde seu corpo será velado, e dedicou quase 60 anos de sua vida ao trabalho no rádio e na televisão.

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Eloísa era irmã do locutor Oliveira Neto, e incentivada por ele acabou fazendo um teste para rádio-atriz e foi trabalhar na Rádio Nacional de São Paulo. Estreou na televisão na TV Paulista nos anos 1960 e a partir daí emendou um trabalho no outro durante quase 40 anos. Esteve em A Grande Mentira (1968/69), de Hedy Maia, novela mais longa da história da Globo até hoje. Eloísa interpretava uma mulher idosa, Dona Elvira, com caracterização. Uma personagem bastante lembrada da mesma época é Zulmira, a esposa do “Navegante” Apolinário (Ary Fontoura), casal que colocava em prática suas fantasias sexuais em Bandeira 2 (1971/72) – tempos de Censura. Em 1972 fez parte do elenco do primeiro programa gravado em cores na televisão brasileira: Meu Primeiro Baile, escrito por Janete Clair e dirigido por Daniel Filho.

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Eloísa Mafalda e Ary Fontoura em Bandeira 2
Eloísa Mafalda e Ary Fontoura em Bandeira 2

A partir de 1972, após ter integrado o elenco de várias novelas, Eloísa deu vida à Dona Nenê, matriarca de A Grande Família, série criada por Oduvaldo Vianna Filho e Armando Costa. Esposa do veterinário Lineu (Jorge Dória), Nenê apaziguava os conflitos dele, dos filhos – Júnior (Osmar Prado), Tuco (Luiz Armando Queiroz) e Bebel (Djenane Machado, substituída depois por Maria Cristina Nunes) –, de seu pai Floriano (Brandão Filho) e do genro Agostinho (Paulo Araújo) em meio a dificuldades de uma família de classe média baixa. A série ficou no ar até 1975.

Eloísa com o elenco da primeira versão de A Grande Família
Eloísa com o elenco da primeira versão de A Grande Família

Na sequência vieram a cafetina Maria Machadão em Gabriela (1975); a parteira Maria Aparadeira em Saramandaia (1976), mãe da jovem Marcina (Sônia Braga), que pegava fogo ao se excitar; a abnegada Consolação em O Astro (1977/78), que criou as três filhas sozinha depois de ser abandonada pelo marido; a Zoraide de Pecado Rasgado (1978/79), que não queria o namoro de sua filha Beatriz (Kátia D’Angelo) com Geraldo (João Carlos Barroso), filho de um amor de seu passado, Maurício (Rogério Fróes); outra abnegada, a Irene de Água Viva (1980), tia que levava irmão, cunhada e sobrinha nas costas e é incentivada pela mesma sobrinha, Janete (Lucélia Santos), a viver sua própria vida; a Zeni de Plumas e Paetês (1980/81), mãe da modelo Amanda (Maria Cláudia); e a divertida Edith (Eloísa Mafalda), em Brilhante (1981/82), que no decorrer da história tornou-se nova-rica e rendeu risadas. Este recorte da carreira da atriz demonstra uma tendência que ela seguiu a vida toda: emendar trabalhos, com pouco ou mesmo nenhum tempo de folga, muito requisitada que era por seu grande talento e muita empatia junto aos telespectadores.

Delegada Celeste na série Delegacia de Mulheres
Delegada Celeste na série Delegacia de Mulheres

Embora personagens como a própria Maria Machadão, a solteirona Irene e a delegada Celeste na série Delegacia de Mulheres (1990), a carreira de Eloísa Mafalda ficou marcada por tipos característicos. Um foi o da beata obcecada, seja pela ideia santificada que faz da filha Maria Rita (Cristina Mullins) em Paraíso (1982/83), seja pela moral e pelos bons costumes a serem mantidos na cidade natal de um santo como a Dona Pombinha de Roque Santeiro (1985/86), ou ainda em sua cruzada contra o padre Otoniel (Antonio Pompeo) por ele ser negro, em Pedra Sobre Pedra (1992). Outro tipo é a dona de casa, mãe, por vezes viúva, que retratava a vida sofrida de tantas como ela, como nos anos 1970 e 1980 a atriz interpretou muitas. Ainda, a solteirona de bem com a vida, cortejada já na terceira idade, a exemplo de Gioconda em Hipertensão (1986/87) e Kitty (Eloísa Mafalda), uma das moradoras da casa de repouso em Quem É Você (1996).

Bartô (André Valli) e Kitty (Eloísa) em Quem É Você
Bartô André Valli e Kitty Eloísa em Quem É Você

Os mais novos devem conhecê-la de aparições nas reprises do Canal Viva, como em Mulheres de Areia (1993), na qual viveu Manuela, dona de um quiosque em Pontal D’Areia; Dona Leonor em Por Amor (1997/98), mãe da traída Sirleia (Vera Holtz); e as citadas Roque Santeiro, Água Viva e Pedra Sobre Pedra.

Dona Pombinha em Roque Santeiro, o maior sucesso da carreira
Dona Pombinha em Roque Santeiro o maior sucesso da carreira
Eloísa como a Gioconda Pontes de Pedra Sobre Pedra
Eloísa como a Gioconda Pontes de Pedra Sobre Pedra

Eloísa Mafalda foi uma das atrizes que mais marcaram as gerações que puderam acompanhar seu trabalho. Seja por sua voz bastante característica, seja pela gama vasta de papéis inesquecíveis, mesmo sem atuar desde O Beijo do Vampiro, exibida entre agosto de 2002 e maio de 2003, ela permaneceu forte na lembrança dos que conheceram seu trabalho. Males de saúde levaram-na a abrir mão do dia a dia dos estúdios e gravações, quando de mãe havia passado a vovozinha carinhosa, a exemplo da Delfina, que ajudou o viúvo Martinho (José Mayer) a criar os filhos em Meu Bem-querer (1998/99). Sua ausência nos vídeos era muito lamentada, e agora será ainda mais. Fica a memória de tantos bons desempenhos, uma vida dedicada à televisão.

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