Há 67 anos, a TV brasileira nascia com a estreia da TV Tupi

Publicado em 18/09/2017

No dia 18 de setembro de 1950, era inaugurada a TV Tupi. A emissora pertencente ao Grupo Diários Associados, do empresário Assis Chateaubriand, entrava no ar com um evento solene e dava início à história da televisão brasileira.

Para dar início ao sonho de implantar a televisão no Brasil, Assis Chateaubriand escolheu alguns radialistas e, durante alguns meses, estes foram submetidos a um treinamento para aprender a fazer televisão. De um pequeno estúdio onde operavam apenas duas câmeras um tanto precárias, a TV Tupi entrou no ar com uma celebração na qual se apresentaram um balé de Lia Marques e uma declamação da poetisa Rosalina Coelho. Para cantar o “Hino da Televisão”, entraram em cena o cantor mexicano Frei José Mojica e a atriz Lolita Rodrigues, enquanto a atriz Yara Lins dizia o prefixo da emissora. Após a solenidade, a Tupi exibiria seu primeiro programa, TV na Taba. A audiência era formada por televisores espalhados por Assis Chateaubriand em alguns pontos da cidade de São Paulo, entre eles cinco aparelhos instalados no prédio dos Diários Associados.

O então radialista Cassiano Gabus Mendes, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi. Tudo era novo e havia bastante improviso nos primeiros anos de funcionamento da emissora. Os profissionais oriundos do rádio aprenderiam, na prática, como era fazer televisão. Por isso mesmo, os profissionais se desdobravam nas mais variadas funções: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. Dois dias depois da primeira emissão, em 20 de setembro de 1950, estreou o primeiro programa humorístico, chamado Rancho Alegre com Mazzaropi.

Aos poucos, a programação foi tomando forma, apresentando programas vindos do rádio que iam sendo adaptados à televisão. Entre eles, os jornais e as novelas, que migraram do rádio para a telinha. Estrearam o já conhecido Repórter Esso, apresentado pelos radialistas Heron Domingues e Gontijo Teodoro, que ficou no ar por 18 anos, e também a primeira telenovela, Sua Vida Me Pertence, que estreou em 1951 com capítulos semanais. A trama criou também a primeira polêmica da teledramaturgia brasileira, ao exibir um beijo (!) entre os personagens de Vida Alves e Walter Foster.

Em seus primeiros anos, a televisão adotaria uma programação erudita, da qual se destacavam exibições de música clássica e teleteatros. Sobre este último, o programa TV de Vanguarda revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoiévski. Alguns programas dos primeiros tempos da TV Tupi tornaram-se campeões de audiência e permanência no ar: Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O Céu é o Limite, comandado por J. Silvestre, e o Clube dos Artistas, de Lolita Rodrigues e Airton Rodrigues.

A TV Tupi também lançou uma programação infantil, na qual se destacou o Clube do Capitão Aza, criado em 1966, onde clássicos do desenho animado como Speed Racer e séries como Ultraman e Ultraseven foram apresentadas. Em 1968, a novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, revolucionava a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. O canal exibiu também programas clássicos, como os de Silvio Santos e Chacrinha.

Em 1972, a Rede Tupi de Televisão é formada e, em 1974, foi assinado o decreto que autorizava a TV Tupi a virar Rede Tupi de TV. Entretanto, nesta época, a emissora era afetada pela crise dos Diários Associados, e era abalada por problemas financeiros, mal administrada e sem investimentos, perdendo qualidade e audiência. Com isso, as emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira, entre eles a novata Rede Globo, que começava a dominar o mercado e a audiência da TV. Ainda assim, a emissora pioneira consegue emplacar sucessos na década como Mulheres de Areia (1973), Meu Rico Português (1975) e A Viagem (1975).

No fim dos anos 1970 a situação piora. A emissora começa a registrar baixos índices de audiência e perdia publicidade, que se transferia à concorrência. Mergulhada em dívidas astronômicas e sem dinheiro em caixa, a Tupi começa a atrasar o pagamento de salários. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, mas ela é interrompida com o pagamento parcelado dos débitos. Para piorar ainda mais a situação, em outubro de 1978 um incêndio no prédio da emissora, em São Paulo, tirou a Tupi do ar por alguns minutos e destruiu os novos equipamentos adquiridos pela emissora no mesmo ano, e que nem chegaram a entrar em funcionamento.

Entre 1979 e 1980, nova greve. A crise chegou a Brasília. O então presidente da República, João Figueiredo, se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos. Muito se discutia, pouco se fazia. A greve durou até o início de fevereiro de 1980, quando a emissora fechou seu departamento de dramaturgia e dispensou os 250 funcionários que trabalhavam nesse setor. Foram interrompidas as novelas Drácula, que só teve 4 capítulos exibidos, e Como Salvar Meu Casamento, a 20 episódios do fim.

Em 16 de julho de 1980, a Tupi teve sete de suas 10 concessões declaradas “não-renováveis” pelo Governo Federal; em 18 de julho, engenheiros lacraram o transmissor da TV Tupi de São Paulo. Saíam também do ar a TV Tupi do Rio, a TV Itacolomi de Belo Horizonte, a TV Marajoara de Belém, a TV Piratini de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza, e a TV Rádio Clube de Recife.

Após o fechamento da Rede Tupi, o Governo Federal passou o ativo da emissora para empresários. Abriu-se concorrência em 23 de julho de 1980 e entraram no páreo o Grupo Abril, o Grupo Silvio Santos e o Grupo Bloch, além de outras companhias menores. Assim, o canal 4 paulistano passou para a TVS, dando início ao SBT; o canal 6 carioca para o Grupo Bloch, iniciando a TV Manchete, e a partir de 1985, os outros ativos da emissora (prédio, equipamentos e outro canal não utilizado) para o Grupo Abril, que lançou a MTV Brasil em 1990.

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