Jô “enlouquece” e perde o rumo em A Dona do Pedaço

Publicado em 21/08/2019

Nesta semana, em A Dona do Pedaço, uma dos momentos mais esperados finalmente aconteceu: Maria da Paz (Juliana Paes) descobriu que seu marido Régis (Reynaldo Gianecchini) mantinha um caso com sua filha Jô (Agatha Moreira). A sequência colocou em evidência o desequilíbrio da vilã da novela das nove da Globo. Porém, esta fase mais hardcore da jovem, que inclui uma série de assassinatos desastrados, vem fazendo a personagem perder o rumo.

Com a exposição de sua relação com o padrasto, Jô resolveu assumi-lo publicamente, escancarando que o ama. Assim, se viu em conflitos, sobretudo na troca de frases cortantes, com Gladys (Nathalia Timberg), Lyris (Deborah Evelyn) e até com seu pai, Amadeu (Marcos Palmeira). A postura pouco amigável está levando a vilã a mostrar-se desequilibrada, forçando uma situação pouco convincente. Como nunca ficou claro os motivos que movem Jô, um desequilíbrio patológico surge como uma justificativa fácil (pra não dizer preguiçosa). Em suma, a personagem, que já era um tanto rasa, agora esvaziou-se de vez.

Sua falta de rumo na novela encontra ecos nos assassinatos estranhos que Jô cometeu. Inicialmente, a vilã matou o mordomo Jardel (Duio Botta) de uma maneira tão maluca, que é necessário repetir o mantra de Gloria Perez (“é preciso voar!”) à exaustão para embarcar nisso. Depois, chantageada pelo namorado dele, a malvada se livrou de mais um, também de maneira inusitada. Para piorar a situação que já era tosca no texto, a execução da cena também deixou a desejar.

O sucesso de A Dona do Pedaço

Mesmo assim, A Dona do Pedaço surfa em seu sucesso de audiência. A trama de Walcyr Carrasco vem batendo seus recordes constantemente, mostrando que o autor é mesmo mestre na arte de agradar seu público. Na verdade, o autor tem como um de seus trunfos o fato de promover reviravoltas constantes, apostando em sequências catárticas que garantem o interesse do público. A história em si não é tão importante quanto os pontos de virada que ela promove. Isso mantém a trama sempre em alta voltagem.

É uma estratégia válida, sem dúvidas. Também não se discute o fato de ela ser bastante eficiente. No entanto, Carrasco vai transformando tal manobra numa muleta. Ele já se baseia nela em todas as suas obras. Com isso, não se permite sair do lugar-comum. Para um autor que tem suas qualidades, lhe falta um pouco de ousadia. Dar ao público o que ele quer é, sem dúvidas, uma excelente estratégia. Mas surpreendê-lo também seria de muito bom tom.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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