Helena de Por Amor: a mais controversa das Helenas de Manoel Carlos

Publicado em 05/07/2019

Helena, a protagonista da maioria das novelas de Manoel Carlos, tornou-se uma figura mitológica da teledramaturgia brasileira. Em comum, as heroínas do autor têm um traço de imperfeição. Elas costumam cometer erros em nome de um amor maior, sobretudo no que se refere à família. No entanto, a Helena de Por Amor, vivida por Regina Duarte, surge como a mais imperfeita delas. Sem dúvidas, ela é a mais controversa das Helenas.

A primeira Helena (Lílian Lemmertz), de Baila Comigo, carregou a culpa de ter separado seus dois filhos gêmeos e ter escondido este segredo a vida toda. Enquanto isso, a Helena de Mulheres Apaixonadas (Christiane Torloni) traiu o marido por conta de uma paixão. Já a Helena de Laços de Família (Vera Fischer) foi a mais altruísta delas: abriu mão de dois amores por causa da filha Camila (Carolina Dieckmann). E as demais Helenas, como as de Felicidade (Maitê Proença), Viver a Vida (Taís Araújo) e Em Família (Júlia Lemmertz) também tiveram seus erros e culpas.

Nesta ampla galeria de Helenas, Regina Duarte viveu a personagem em três ocasiões. Em História de Amor, Helena passava poucas e boas por conta da voluntariosa filha Joyce (Carla Marins), mas buscava tocar a vida dignamente. Enquanto isso, a Helena de Páginas da Vida escondeu de uma avó, Marta (Lília Cabral), que adotou a sua neta e a criou. Neste caso, o motivo era nobre. Afinal, Marta optou por entregar a neta para a adoção, já que a menina portava Síndrome de Down.

Mas, em Por Amor, as atitudes de Helena são bem difíceis de entender. A heroína passou a vida superprotegendo a filha Maria Eduarda (Gabriela Duarte), enchendo-a de mimos. Assim, a filha cresceu cheia de vontades e carregada de ingratidão. Mesmo assim, Helena não pensou duas vezes ao trocar o filho morto de Eduarda pelo seu filho recém-nascido. Ao entregar seu próprio filho à filha mais velha, Helena novamente poupou Eduarda dos sofrimentos da vida.

Amor?

A Helena de Por Amor toma atitudes intempestivas tendo como justificativa o título da novela: por amor. Seu amor à filha a levou a atos extremos, como a troca de bebês. É possível que muitos achem a atitude nobre, de uma mãe defendendo a cria. No entanto, ao fazer o que fez, Helena pensou apenas em seu amor à filha, ignorando todas as demais consequências de seu ato.

A “vítima” mais óbvia é Atílio (Antonio Fagundes). O pai de seu filho ficou profundamente abalado ao acreditar ter perdido seu herdeiro. E Helena, mesmo acompanhando de perto o sofrimento do marido, seguiu firme em sua mentira. Helena também não pensou no próprio filho recém-nascido sendo criado por uma irmã desavisada, e praticamente dentro da casa de sua rival, Branca Letícia (Susana Vieira).

Ou seja, a Helena de Por Amor nutre um amor quase patológico pela filha. E, em nome dele, passa por cima de todas as outras pessoas ao seu redor. Com isso, sua atitude é muito mais egoísta do que nobre. Helena negou a felicidade dela mesma, de Atílio e do filho que tiveram juntos, para que Eduarda pudesse ser feliz. E é justamente este conflito que torna Por Amor uma das mais importantes novelas de Manoel Carlos. Afinal, é uma história que segue mexendo com o público, mais de 20 anos depois de sua estreia e outras três reexibições.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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