Em nova temporada, A Garota da Moto abusa do maniqueísmo

Publicado em 07/03/2019

Com quase três anos de atraso, o SBT lançou na noite de ontem (06) a segunda temporada de A Garota da Moto. A coprodução entre o canal de Silvio Santos e a Mixer chamou a atenção em 2016, quando se mostrou um produto destoante da teledramaturgia tradicional da emissora. Com boa audiência e boa repercussão, a série ganhou uma tardia segunda leva. No entanto, seu retorno se mostrou um tanto mais pobre que a primeira safra. Alguma coisa se perdeu nestes anos de hiato.

A Garota da Moto conta a história de Joana (Chris Ubach), uma motogirl que enfrenta a fúria da vilã Bernarda (Daniela Escobar). Isso porque, no passado, Joana se envolveu com o marido da dondoca, sem saber que ele era casado, e acabou engravidando dele. Agora, Bernarda dedica sua vida a tentar matar a motogirl e seu filho, para ser a única herdeira do patrimônio familiar. Após muitos planos mirabolantes, Bernarda é presa, e é da cadeia que a segunda temporada começa.

Leia também: Público repercute a estreia da nova temporada de A Garota da Moto no SBT

Mesmo encarcerada, Bernarda segue com seu plano de eliminar Joana. Para isso, ela se une à bandida Naomi (Ana Flavia Cavalcanti), que comanda um grupo de assassinos. Além disso, Joana ainda terá que enfrentar Alex (Erom Cordeiro), um stalker com motivações obscuras. Ou seja, não faltam problemas para a heroína nesta segunda temporada de A Garota da Moto.

Folhetim

A Garota da Moto já teve uma primeira temporada bastante calcada no folhetim. Os personagens não têm nuances, e o bem e o mal são bem claros. Além disso, apesar dos poucos personagens, a série é dividida em pequenos “núcleos”, outra característica típica de novela. Há momentos pretensamente cômicos e cenas de ação e aventura, que equilibram o clima pesado da trama central.

No entanto, as características folhetinescas foram elevadas à potência máxima na nova safra. Com Bernarda presa e a chegada da nova vilã Naomi, a perseguição à Joana e seu filho ganha contornos bem mais maniqueístas, com pouco espaço para sutilezas ou subjetividades. O roteiro, apesar de honesto, é mais raso que numa série convencional, sem se ater aos perfis psicológicos dos personagens. E há ainda a equivocada narração das protagonistas. Joana e Bernarda aparecem falando diretamente ao público, explicando tudo o que o espectador já viu ou entendeu. Trata-se de um recurso narrativo desnecessário que empobrece o enredo. Em suma, a história é oferecida “mastigada” ao público.

Além disso, a produção em si parece ter perdido qualidade. Na primeira temporada, A Garota da Moto chamou a atenção pela boa fotografia, com cenários e iluminação mais convincentes do que costumamos ver nas novelas do SBT. Nesta nova leva, tudo soa mais fake. Havia ainda bons takes de câmeras e boas cenas de ação. O que não se viu nesta reestreia. As cenas de luta extremamente coreografadas não convenceram ninguém.

Atuações

Se a história não traz nada de novo, ao menos A Garota da Moto está bem servida de atuações. Chris Ubach é uma heroína correta, e Daniela Escobar dá credibilidade à sua vilã um tanto rasa. Além disso, a atual temporada conta com a presença de Ana Flavia Cavalcanti, uma grata surpresa de Malhação – Viva a Diferença, trama na qual deu vida à idealista diretora Dóris.

E ainda, há a participação de Adriana Lessa, que viverá a delegada Ferreira. Com o atraso na exibição da segunda temporada de A Garota da Moto, a atriz pode ser vista em duas produções inéditas ao mesmo tempo, já que está no ar também em O Sétimo Guardião, na Globo.

No mais, apesar das falhas, A Garota da Moto tem um trunfo incontestável: ela dialoga bem com o público do SBT. O fato de ela abrir espaço às produções independentes e, de quebra, ampliar o leque de opções da teledramaturgia do canal já coloca a série num lugar de destaque. A experiência é sempre válida.

Leia também: Paredão falso foi mais uma tentativa frustrada de movimentar o BBB 19

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade