Verão 90: a confusão da cronologia da novela confunde também o público

Publicado em 13/02/2019

Verão 90 estreou há apenas duas semanas no horário das 19h da Rede Globo. No entanto, a novela de Izabel de Oliveira e Paula Amaral já rendeu diversas controvérsias em sua trama no quesito cronologia. Após um prólogo passado nos anos 1980, a história se situa por algumas semanas em 1990. Mais precisamente, em março de 1990, época do Plano Brasil Novo, ou Plano Collor, que confiscou o dinheiro da poupança dos brasileiros.

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A homenagem a Irmãos Coragem acabou sendo um tiro que saiu pela culatra

Os protagonistas masculinos de Verão 90 são os irmãos Guerreiro, Jerônimo e João. Eles foram assim batizados por Janaína, a saber, em homenagem à famosa novela de Janete Clair, Irmãos Coragem. Isso ficou claro, inclusive, numa fala de Janaína para a amiga Celestine (Bel Kutner). Pois bem. A referida novela foi exibida de junho de 1970 a julho de 1971, em 328 capítulos. Em março de 1990, Jerônimo é situado na história tendo 22 anos de idade, ao passo que João tem 20. Noutra cena, os irmãos discutem e João afirma que Jerônimo tem 22 anos. O que aponta que, para que fosse cabível que batizasse os filhos em homenagem à novela, Janaína teria que ter dado à luz ambos entre 1967 e 1969. Ou entre o início de 1968 e o início de 1970. Não é o caso.

Referências temporais levam a dúvidas quanto à época da ação de Verão 90

Manuzita (Melissa Nóbrega), João (João Bravo) e Jerônimo (Diogo Caruso) começaram a novela tendo de 9 a 11 anos de idade. Os diálogos deixam claro que os dois irmãos Guerreiro e a filha de Lidiane (Cláudia Raia) ficaram 10 anos sem se encontrarem, após a crise que levou ao fim do grupo que formavam, a Patotinha Mágica. Isso significa que, se os encontramos na casa dos 20 anos no início de 1990, seu sucesso como cantores e apresentadores teria se dado em 1979 ou 1980. No entanto, as referências temporais fornecidas pela trama, entre programas de TV, músicas, folhinhas do cenário, entre outras, apontam entre 1980 e 1984 como a época de atividade do grupo. Confuso.

Outro ponto que tem desagradado a diversos espectadores é a trilha sonora. Não pela sua falta de qualidade, já que as músicas são bastante boas e emblemáticas no geral. Mas sim pelo anacronismo. O tema de João é “Menino do Rio”, na gravação de Baby (Consuelo) do Brasil usada anteriormente na abertura de Água Viva (1980). “Saideira” (Skank) e “Puro Êxtase” (Barão Vermelho) são também usadas na trilha da história. No entanto, elas são da segunda metade da década de 1990. Essas músicas ilustrarem personagens que em sua “realidade ficcional”, em sua exegese, convivem com lambada, soa bastante anacrônico, deslocado. Por mais compreensível que possa ser a intenção de fazer um panorama da década, a história se passa na primeira metade dos anos 1990. E há muitos fonogramas de valor para serem usados, feitos nesse período.

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No entanto, nem tudo deve ser alvo de pedras na construção da cronologia de Verão 90

Há diversos pontos a serem criticados. Todavia, há também os que devem ser tolerados no assunto cronologia. Por exemplo, a localização das festas de recepção ao Papai Noel no tempo. Ou Manuzita convocar candidatos a seu par na TV após uma apresentação no programa do Chacrinha. Os de boa memória, ou estudiosos da história da nossa televisão, sabem que o Velho Guerreiro deixou a Globo em 1972 e só voltou em 1982. Ou seja, estando a história em 1979 ou 1980, o programa dele teria que ser reconstituído com base em sua fase na Band. Isto é, caso o rigor histórico e temporal fosse muito alto. E não considero que seja o caso, sendo esta uma verdadeira licença poética.

O mesmo vale para Manuzita fazer figuração nas cenas finais de Tieta, que realmente estava acabando naqueles dias de março. Logo, teriam que ser cenas gravadas para exibição dias depois. Diferente do caso dos nomes dos filhos de Janaína homenagearem os Irmãos Coragem

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