Manuzita: Verão 90 acerta e erra com mocinha atrapalhada

Publicado em 20/02/2019

Verão 90, a novela da sete da Globo, estreou com a forte desconfiança de que se basearia apenas na nostalgia. No entanto, passadas três semanas, já é possível perceber que a novela de Izabel de Oliveira e Paula Amaral é mais do que isso. As autoras, além de usarem e abusarem das homenagens às novelas clássicas, narram o bom e velho folhetim, com amores proibidos, reviravoltas e até alguma crítica social. Além disso, se permitem alguma ousadia, como o perfil de Manu (Isabelle Drummond), uma mocinha toda errada e atrapalhada.

Na trama, Manu fez sucesso na TV quando criança. Mas ela cresceu. Assim, perdeu o ar “fofo” que a fez uma criança consagrada, e se mostrou uma adulta pouco talentosa. Incentivada pela mãe Lidiane (Claudia Raia), outrora uma atriz de pornochanchada, ela corre atrás da fama, mesmo sem nenhum preparo para isso. Deste modo, acumula uma série de frustrações.

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Trata-se de um perfil um tanto inusitado para uma mocinha de novela. Manu reúne as características da heroína clássica, afinal, está no centro de uma história de amor proibida. Mas vai além disso. Ela é uma jovem equivocada, que busca o sucesso pelos caminhos errados. Mesmo claramente despreparada, ela vive a ilusão alimentada por sua mãe. E, assim, percorre um caminho um tanto atrapalhado, sempre metendo os pés pelas mãos.

Caricatura

Recentemente, saíram notícias dando conta de que a direção da Globo solicitou que Isabelle Drummond e Claudia Raia diminuam o tom de suas personagens em Verão 90. Foi constatado que as duas passaram do ponto e estão muito caricaturais. É verdade. Na tentativa de fazer um humor mais corporal, as duas atrizes acabaram por exagerar nas caras e bocas, tornando Manu e Lidiane um tanto over.

Neste contexto, Isabelle Drummond sai perdendo. Claudia Raia já está acostumada a personagens espalhafatosas, e, por mais que esteja over, é inegável que é um tipo que ela faz muito bem. Já Isabelle, acostumada a mocinhas mais convencionais, não consegue alcançar tal tom. A atriz é talentosa, sem dúvidas, mas ainda não encontrou a comicidade de Manu, muitas vezes pecando pelo exagero.

Sendo assim, a orientação para ajustar o tom de Manu é boa. Desde que isso não signifique que a mocinha perca a sua comicidade e suas características atrapalhadas. Afinal, isso imprime humanidade à mocinha, que gera identificação com a audiência. Não há nada mais chato que uma mocinha “certinha”. E isso Manu, definitivamente, não é.

Verão 90 x Vale Tudo

Além da mocinha atrapalhada, outro trunfo de Verão 90 é sua clara inspiração em Vale Tudo. Janaína (Dira Paes) sai em busca do filho vilão, que só a prejudica, tal qual a Raquel (Regina Duarte) na história de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Além disso, vários personagens em seu entorno, como sua irmã Janice (Claudia Ohana), costumam questionar até que ponto vale a pena ser honesto no país, mote daquela novela. De quebra, Verão 90 traz cenas interessantes sobre o racismo sofrido por personagens como Diego (Sergio Malheiros).

Ou seja, Verão 90 não se sustenta apenas pela nostalgia. A novela tem uma história. E não nega sua essência absolutamente folhetinesca. Se mantiver esta pegada, tem tudo para se tornar um sucesso.

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