Elizabeth Savalla faz de Mirtes um grande destaque de O Sétimo Guardião

Publicado em 15/02/2019

Do alto de seus mais de 40 anos de carreira, Elizabeth Savalla tira de letra sua personagem em O Sétimo Guardião. Na novela de Aguinaldo Silva, a atriz dá vida à beata Mirtes Aranha. Mal-amada, amarga e intrometida, Mirtes inferniza a todos. Especialmente e com inigualável prazer, à nora Stella (Vanessa Giácomo), que tem problemas com álcool.

Uma viúva dominadora e moralista

Mirtes Aranha é uma figura respeitada na pequena Serro Azul. Honestíssima viúva, é mãe do médico local, o Dr. José Aranha (Paulo Rocha). Este é um dos guardiões da fonte da juventude que a cidade abriga, mas ela não sabe disso. Júlia, a outra filha, é falecida há alguns anos. João Inácio (Paulo Vilhena), o genro viúvo, também é alvo da opressão de Mirtes, a exemplo da cunhada Stella. Guilherme (Caio Manhente), filho de João Inácio, tem muito mais respeito e consideração pela avó do que por ele. Em virtude de muita chantagem emocional e do grande poder de persuasão que possui, Mirtes tem o neto nas mãos e o coloca contra o pai sempre que possível.

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Esse grande poder de persuasão tem eficácia especialmente sobre os mais incautos, carentes de alguém que os guie para além da Igreja. Entre estes, podemos incluir Jurandir (Paulo Miklos). Também viúvo, ele cria sozinho a filha Elisa (Giullia Buscacio), já adolescente. E passará a enfrentar a forte oposição de Mirtes a seu relacionamento amoroso com Milu (Zezé Polessa). Esta é ninguém menos do que a “bruxa” local, rival da beata na liderança espiritual da cidade. O Padre Ramiro (Ailton Graça) faz o que pode, mas sabe que a ascendência de Mirtes sobre os carolas locais é maior do que a dele.

As prostitutas, alvo constante da ira de Mirtes

Ondina (Ana Beatriz Nogueira) e as meninas de seu bordel, bem como Lourdes Maria (Bruna Linzmeyer), jovem sem rumo na vida, são alvos ideais para Mirtes destilar todo o seu veneno para além dos limites de sua casa. A cafetina e as prostitutas ouvem impropérios como pragas para que todas morram, pecadoras que são. Lourdes Maria, por sua vez, foi incentivada por Mirtes a trabalhar como prostituta, após seu envolvimento com Olavo (Tony Ramos). O “boy velho”, como ela o chama, tem idade para ser seu avô. Além disso, Stefânia (Carol Duarte), uma das meninas de Ondina, deixou o cabaré e foi viver justamente com quem? João Inácio, é claro.

Nem Tobias (Roberto Birindelli), dono do restaurante onde Guilherme se empregou como garçom, escapou da viúva. Em plena inauguração do estabelecimento, ela mandou o neto sujar de propósito justamente Valentina, a convidada principal da festa. Tudo na intenção de fazê-lo ser demitido, o que o jovem mais desejava. No entanto, Stella e a cozinheira do restaurante, Firmina (Guida Vianna), sabem da verdade.

A Mirtes que Serro Azul não conhece

No entanto, essa carapaça de moralidade e temor a Deus esconde uma personalidade bastante diferente. Mirtes fugiu do hospital onde estava internada, tirou um bom dinheiro do banco, pintou o cabelo de loiro, comprou um notebook e aprendeu a mexer na internet. Além disso, tem uma existência paralela que envolve o Dr. Mattoso (Tuca Andrada), cuja trama passará a se desenrolar nos capítulos que vêm por aí.

O talento de Elizabeth Savalla livrou Mirtes de cair na trilha fácil da caricatura. A atriz dosa muito bem a maldade, o deboche e a falsa emotividade. Uma escalação equivocada poderia ter colocado o papel por terra, anulando maiores possibilidades de crescimento. Aliás, esse crescimento tem mesmo ocorrido: embora Mirtes nunca tenha sido uma simples coadjuvante de pouca importância, muito do teor vilanesco que a história desenvolve tem sido reservado para ela. Já que a Valentina Marsalla de Lília Cabral até agora não empolgou como poderia, Elizabeth deita e rola com sua beata hipócrita.

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As “outras” Mirtes da obra de Aguinaldo Silva

Em novelas regionalistas, passadas em cidadezinhas do interior, a exemplo de O Sétimo Guardião, a figura da beata é recorrente. Porque real. Eloísa Mafalda deu vida a duas das mais lembradas. Foi a Dona Pombinha, primeira-dama de Asa Branca em Roque Santeiro (1985/86), de Dias Gomes com coautoria de Aguinaldo. Posteriormente, a atriz interpretou Gioconda em Pedra Sobre Pedra (1992), de Aguinaldo com Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.

Atualmente, o Canal Viva reprisa duas novelas do autor, escritas com Linhares, que apresentam igualmente suas beatas. Em A Indomada (1997), já nas últimas semanas, a megera Maria Altiva (Eva Wilma). E na recém-estreada Porto dos Milagres (2001), a figura de Genésia (Júlia Lemmertz), um pouco mais jovem do que o habitual em personagens com esse perfil.

Não podemos esquecer, logicamente, de Perpétua (Joana Fomm). A invejosa irmã de Tieta (Betty Faria) na novela homônima de 1989/90. Assim como Mirtes e Altiva, Perpétua tinha seu séquito, composto por Amorzinho (Lília Cabral) e Cinira (Rosane Gofman). As duas atrizes foram lembradas nos nomes das beatas seguidoras de Mirtes: Liliane (Simone Zucato) e Roseane (Talita Fusco).

As duas Malvinas

Stella (Vanessa Giacomo) e Mirtes (Elizabeth Savalla) de O Setimo Guardiao
Stella Vanessa Giócomo e Mirtes Elizabeth Savalla de O Sétimo Guardião DivulgaçãoTV Globo

Uma curiosidade interessante é que Elizabeth Savalla e Vanessa Giácomo, que travam diversos embates em cena nos capítulos de O Sétimo Guardião, já interpretaram a mesma personagem em versões diferentes de uma novela. Falo de Gabriela, e da irreverente e contestadora Malvina Tavares. Elizabeth foi a Malvina de 1975 e Vanessa, a de 2012. Logo, na novela atual é como se “as Malvinas” se digladiassem.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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