Com dramaturgia limitada, Record TV subaproveita seus talentos

Publicado em 19/02/2019

Na semana passada, o autor de novelas Marcílio Moraes comemorou um texto publicado pelo Observatório da Televisão, que falava da boa audiência da reprise de Essas Mulheres nas tardes da Record TV. O novelista aproveitou a deixa para desabafar sobre estar sob contrato na emissora, mas encostado. Sem emplacar um trabalho desde a (ótima) série Plano Alto, Moraes é uma das “vítimas” da nova política de novelas da emissora. O canal vem priorizando folhetins bíblicos.

Veterano das novelas, Marcílio Moraes foi o autor que mais emplacou sucessos de crítica desde que a Record TV voltou a investir em dramaturgia. Essas Mulheres, Vidas Opostas e Ribeirão do Tempo foram produções que chamaram a atenção pelo requinte do texto, com boa dramaturgia, sem perder de vista as características da essência do folhetim.

O sucesso de público de Vidas Opostas, que mesclava romance e crítica social acerca da violência urbana, é prova de que Marcílio encontrou uma receita de sucesso. Com Ribeirão do Tempo, criou uma cidadezinha que, verdadeiramente, era o microcosmo do país. Pretensão de Aguinaldo Silva e sua O Sétimo Guardião, sem sucesso.

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Além de novelas, Marcílio Moraes também assinou séries na Record. Seu maior sucesso foi A Lei e o Crime, que veio na esteira da boa recepção de Vidas Opostas. O autor, então, seguiu no segmento policial com Fora de Controle. Depois, partiu para o drama político com Plano Alto. Agora, tenta emplacar uma nova série, Pigmaleão do Brejo. Mas, até aqui, segue sem perspectivas de voltar ao ar.

Renovação de autores

A perda de espaço de Marcílio Moraes tem a ver com a ascensão das novelas bíblicas da Record. Os primeiros autores de novelas, que pavimentaram todo o projeto dramatúrgico da emissora entre 2004 e 2014, perderam a vez para projetos encomendados baseados em histórias da Bíblia. Nesta fase, Vivian de Oliveira, Renato Modesto e Paula Richard ascenderam, enquanto Moraes, Cristianne Fridman e Gisele Joras saíram de cena.

O início da retomada da teledramaturgia da Record, a partir de A Escrava Isaura, foi também uma fase de aposta em veteranos e promoção de “novatos”. O sucesso da história da escrava branca revelou Tiago Santiago, que se tornou um dos mais festejados autores da emissora. A emissora, então, contratou em seguida Marcílio Moraes e Lauro César Muniz, que imprimiram experiência e credibilidade às novelas da Record. A tríade de autores marcou o início da faixa das 22 horas, com uma série de sucessos.

Aí vieram Cristianne Fridman e Margareth Boury, que tinham experiência como colaboradoras. Na Record, tiveram a chance de se tornarem novelistas titulares. A emissora também revelou Gisele Joras. Mais adiante, trouxe aos seus quadros outro veterano, Carlos Lombardi. Ou seja, o canal investiu em novelistas e alcançou uma produção de novelas. Entre altos e baixos, produziu muita coisa boa. Tanto que as reprises de novelas da tarde da emissora têm registrado bons índices de audiência, como atentou o crítico Fábio Costa, em análise recente ao Observatório da Televisão.

Bíblia

Desde o sucesso de Os Dez Mandamentos, a Record TV tem apostado fundo nas tramas bíblicas, deixando as novelas “convencionais” de lado. A boa audiência de boa parte destas novelas mostra que a emissora encontrou um nicho. Assim, seguir apostando neles faz todo o sentido. No entanto, não seria ruim se o canal abrisse o leque, permitindo-se apostar em outros temas de vez em quando.

Cristianne Fridman deve voltar ao ar em breve com Topíssima, uma rara e oportuna aposta da Record em novelas contemporâneas. Não seria nada ruim se, depois desta experiência, a emissora voltasse a valorizar medalhões como Marcílio Moraes. O público ávido por tramas boas e diferentes agradece.

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