2018 na TV: um ano bastante movimentado, mas fraco de ideias

Publicado em 31/12/2018

A televisão brasileira se movimentou bastante ao longo de 2018. Os principais canais abertos do país promoveram várias estreias ao longo do ano, o que se refletiu até nos bons índices de audiência em alguns deles. No entanto, esta movimentação não significou, propriamente, novidades de fato. Pelo contrário. Em tempo de crise, as redes preferiram não arriscar e ofereceram, no geral, mais do mesmo.

A Globo, por exemplo, até tentou arriscar no campo das novelas, trazendo a “diferente” Deus Salve o Rei. Mas a trama medieval de Daniel Adjafre não empolgou e ficou longe de ser o sucesso esperado pela emissora. Já sua substituta, O Tempo Não Para, estreou muito bem, mas logo perdeu fôlego. Enquanto isso, nos demais horários, o canal apostou no arroz com feijão, mas não caprichou no sal. Tramas como Segundo Sol e Espelho da Vida se mostraram mornas. E Malhação, que conseguiu sair do lugar-comum com Viva a Diferença, voltou ao marasmo com a estranha Vidas Brasileiras. A dramaturgia da Globo colheu seus melhores frutos mesmo com as séries e minisséries, como Treze Dias Longe do Sol, Onde Nascem os Fortes, Carcereiros e Sob Pressão.

A linha de shows da emissora também não tem muito o que comemorar. As apostas em auditórios noturnos, com o Amor & Sexo e Os Melhores Anos das Nossas Vidas, não vingaram. O Vídeo Show conseguiu agravar a crise de audiência na qual está mergulhado há anos e já não garante a liderança de audiência para a Globo. A emissora chegou até a mudar, mais uma vez, o time de apresentadores, mas não teve jeito, já que a crise do programa é criativa, e não de comando.

Perda da liderança

E quem deu dor de cabeça ao vespertino global foi a Record TV, que se deu bem ao valorizar o jornalismo popular. O Balanço Geral já dava trabalho com o quadro A Hora da Venenosa, mas, em 2018, começou a avançar também sobre o Globo Esporte e o Jornal Hoje. Ao mesmo tempo, o Cidade Alerta cresceu ao apostar em jornalismo investigativo, criando narrativas que se estendem por dias a fio. Enquanto isso, no entretenimento, A Fazenda surpreendeu e fez as pazes com o sucesso em 2018, o que ajudou a emissora a avançar.

Mas, embora tenha sido um ano mais feliz em audiência para a Record, não foi um ano de novidades. Pelo contrário. A linha de shows segue refém dos mesmos formatos de sempre, com Power Couple, Dancing Brasil e Batalha dos Confeiteiros. A única novidade de fato foi o bom Canta Comigo, que não chegou a ser um sucesso de audiência. Até mesmo a dramaturgia bíblica parece estagnada. Apocalipse foi o fiasco do ano. E Jesus, que estreou com as maiores expectativas, teve recepção morna.

Mais do mesmo

No entanto, ninguém ficou mais estagnado em 2018 do que o SBT. A emissora de Silvio Santos teve como única novidade a novela As Aventuras de Poliana, que se mostrou um acerto. No mais, o canal simplesmente manteve seus principais programas praticamente intactos, sem lançamentos e nem novas contratações.

A principal movimentação da grade foi a saída do Mundo Disney, encerrado com o fim da parceria entre o SBT e a gigante do entretenimento mundial. Para tapar o buraco, a emissora tratou de esticar o Primeiro Impacto, que hoje ocupa incríveis quatro horas e meia da programação diária. Um feito e tanto, se consideramos que não houve qualquer investimento no matinal.

Sem novidades na programação, o SBT se destacou por polêmicas. Silvio Santos seguiu desbocado em seu programa e, ainda, foi alvo de críticas ao dizer que Claudia Leitte o excitava no Teleton. Enquanto isso, a saída de Mara Maravilha do Fofocalizando foi alvo de uma série de especulações. A apresentadora saiu brigada com todos os demais apresentadores da atração.

Fim da inércia

Já a Band surpreendeu em 2018, ao investir em programação após anos sem novidades. No entanto, a emissora apostou em formatos velhos e baratos, e o resultado foi aquém do esperado. Melhor da Tarde com Cátia Fonseca e Agora É Domingo com José Luiz Datena não empolgaram. Outras apostas, como Cozinha do Bork e Superpoderosas, duraram pouco tempo. Assim, o MasterChef continua no posto de carro-chefe da emissora, mesmo com o formato cada vez mais desgastado.

Mesmo com tantas estreias na grade, a Band ainda tem dificuldades em bater a RedeTV! na audiência. E o canal de Amílcare Dallevo também ficou na zona de conforto em 2018. As estreias foram pontuais e batidas, como o Edu Guedes e Você e Tricotando. Enquanto isso, a Gazeta transformou um problema numa boa novidade. O canal perdeu Cátia Fonseca para a Band, mas conseguiu Regina Volpato, que deu uma boa repaginada no tradicional Mulheres.

Streaming

Sendo assim, se as novidades na TV tradicional foram bem escassas, o mesmo não se pode dizer nas demais telas. Em 2018, os canais brasileiros deram um passo além nos investimentos em conteúdo via streaming, sinalizando que a transformação do consumo de audiovisual segue intensa. Foram apostas interessantes, que podem ditar os rumos dos próximos investimentos.

Neste contexto, Globo e Record investiram em suas próprias plataformas. A primeira reforçou o Globoplay, ampliando a cartela de conteúdo. Além de apostar em produções próprias, com as boas Assédio e Ilha de Ferro, a plataforma também tem investido em séries enlatadas. A ideia é clara: fazer frente à Netflix. Enquanto isso, a Record lançou o PlayPlus, que aposta não apenas no conteúdo da RecordTV, mas também de canais como Disney e ESPN. Aos poucos, a plataforma também vem formatando conteúdo exclusivo.

Enquanto isso, RedeTV! e SBT miraram seus esforços no YouTube e disputam o título de maior canal de uma rede de TV na plataforma. A RedeTV! terminou o ano à frente do SBT, graças às pegadinhas de João Kléber. No entanto, o canal merece atenção, já que a emissora aposta numa grade virtual, com uma programação exclusiva da plataforma. Os investimentos em múltiplas telas deve dar o tom das próximas movimentações dos canais brasileiros.

Assuntos relacionados:

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade