Com O Sétimo Guardião, Aguinaldo Silva retorna ao seu melhor universo

Publicado em 13/11/2018

A missão de O Sétimo Guardião, estreia de ontem (12) na Globo, é uma das mais nobres. Afinal, o horário das nove da Globo padeceu de duas produções boas de Ibope, mas ruins de trama. Assim, caberá à O Sétimo Guardião reunir público e crítica na mesma opinião, tal qual Gloria Perez e sua saudosa A Força do Querer. E há motivos para crer que a história de Aguinaldo Silva tem potencial para tal.

Isso porque o autor retorna ao seu universo particular em momento mais do que oportuno. As novelas das nove da Globo vinham numa onda de tramas realistas, abusando da violência e de campanhas sociais. Não que elas não sejam importantes, mas chegou um momento em que as histórias ficaram duras demais. Sendo assim, cabe sempre a busca por um refresco. E a própria direção da emissora percebeu isso lá em 2015. Quando Babilônia e A Regra do Jogo decepcionaram, o canal optou por retomar as tramas rurais com Velho Chico. Agora, a hora é da retomada do realismo fantástico.

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Gênero que tem Dias Gomes como maior referência, o realismo fantástico fez a carreira de Aguinaldo Silva no horário nobre da Globo. Tramas como Tieta, Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida, A Indomada e Porto dos Milagres agradaram em cheio ao apostar na magia e no impossível. Com esta proposta, o autor sempre escreve novelas bem-humoradas, mas que mantém o vigor de novela das nove. Não é uma comédia das sete.

Além disso, uma trama fantástica oferece o escapismo, mas sem se colocar alheia à realidade. Os microcosmos criados por Silva são perfeitas para críticas sociais inteligentes e oportunas. Neste contexto, O Sétimo Guardião tem um sabor especial, já que a história se passa em Serro Azul. Quem se lembra de novelas como A Indomada e Porto dos Milagres, sabe que Serro Azul era sempre a “cidade vizinha”. Era onde os moradores de Greenville e Porto dos Milagres iam fazer compras ou resolver problemas. Agora, finalmente, o espectador pode conhecer Serro Azul.

O Sétimo Guardião tem estreia longa, mas instigante

O primeiro capítulo de O Sétimo Guardião pareceu a fusão perfeita entre o universo regionalista e urbano de Aguinaldo Silva, tudo numa mesma novela. Enquanto as sequências em São Paulo protagonizadas por Valentina Marsalla (Lília Cabral) remeteram à Império, as ações em Serro Azul recuperaram a simpática atmosfera das tramas regionalistas.

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Assim, ao mesmo tempo em que houve espaço para um casamento rompido, houve também a indefectível apresentação dos tipos que compõem Serro Azul. Há o padre, o delegado, o comerciante, a dona do bordel e o prefeito. Tudo envolto na magia de uma fonte misteriosa guardada por integrantes de uma espécie de sociedade secreta. O principal guardião da fonte é Egídio (Antonio Calloni), que abandonou Valentina no altar anos atrás para se dedicar à missão. Quando o gato León desaparece da cidade, os guardiões entendem que uma mudança se aproxima.

Foi um capítulo bem longo. Muitos personagens foram apresentados, costurando as ações da trama principal. Assim, houve vários momentos de virada que poderiam encerrar a estreia, mas o capítulo continuava. Deu tempo de o mocinho Gabriel (Bruno Gagliasso) abandonar a noiva no altar, ser perseguido, morrer e ser ressuscitado pela mocinha Luz (Marina Ruy Barbosa). Apesar disso, não foi um capítulo cansativo. Os mistérios apresentados instigaram, enquanto bons e velhos clichês do folhetim cumpriam a missão de prender a audiência.

Terror

A maior diferença entre O Sétimo Guardião e as novelas regionalistas anteriores de Aguinaldo Silva é que esta parece apostar mais numa atmosfera de terror. Ela é tão cheia de fantasia quanto Fera Ferida e A Indomada. Mas seus elementos fantásticos foram mostrados ao público em sequências soturnas, com uma trilha sonora encomendada para assustar. A mão que salta da xícara de café de Luz, ou Gabriel surgindo ensanguentado à beira da cama da mocinha, por exemplo, pareciam cenas de filme de terror.

No entanto, o mais provável é que O Sétimo Guardião mantenha o colorido e o bom humor das tramas fantásticas anteriores de Aguinaldo Silva. Assim, traz de volta ao horário nobre um estilo que fazia falta. Só resta saber se o público de hoje, mais exigente, aceitará embarcar na fantasia.

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