Caldeirão do Huck e o assistencialismo dos programas de auditório

Publicado em 05/11/2018

Uma experiência interessante é assistir às reprises do Caldeirão do Huck no canal Viva. O canal pago do Grupo Globo reapresenta aos domingos a primeira temporada da atração, produzida em 2000. Ali, é possível ver um jovem e entusiasmado Luciano Huck comandando diversos quadros com uma pegada “alto astral”. Games, encontros musicais e entrevistas são entregues ao público com uma embalagem jovem, algo semelhante ao estilo do H, que ele comandou na Band.

Bem diferente do atual Caldeirão do Huck. O programa foi se moldando com o tempo, para se adequar à audiência da tarde de sábado. Na época, Luciano sofria com a concorrência do Programa Raul Gil, que era exibido pela RecordTV. Ou seja, ficava claro que havia uma falha na concepção do Caldeirão. Ele não devia ser muito teen, e sim mais familiar. Afinal, a tarde de sábado tinha um público bem mais heterogêneo. A aposta, então, foi no assistencialismo.

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No decorrer dos anos, o programa ganhou quadros distintos, mas todos com um viés assistencialista. Sucessos como o Agora ou Nunca, Lar Doce Lar e Lata Velha eram baseados em histórias de vida, quase todas carregadas de “emoção”. Assim, chegamos ao ano de 2018, em que o assistencialismo se tornou praticamente a única atração do Caldeirão. No último sábado (03), por exemplo, a maior parte do programa foi ocupada por uma reportagem sobre o Sonho Meu, um projeto social do Mato Grosso do Sul.

Auditórios “emocionantes”

Assim, Caldeirão do Huck engrossa a lista dos programas de auditório que abusam das pautas ditas “emocionantes”. Eliana, do SBT, e Hora do Faro, da RecordTV, também dedicam a maior parte do seu tempo de arte a este tipo de pauta. Não que isso seja uma novidade: programa de auditório aposta nisso desde o início da TV. A diferença é que, agora, estes programas trazem apenas isso. Quase não há variedades.

Curiosamente, alguns começam a ir pela contramão. Caso do Domingo Legal, do SBT. O programa de Celso Portiolli tentou combater o Domingo Show, da RecordTV, com o mesmo tipo de atração. Não deu certo. Atualmente, Portiolli diminuiu o assistencialismo para apostar em games. E sua audiência cresceu.

O assistencialismo e as histórias de vida “emocionantes” na TV não são um tipo de pauta ruim ou condenável. Há público para isso, sem dúvidas. O problema é que os programas de auditório, no geral, estão se dedicando apenas a isso, e mais nada. Assim, o espectador fica sem ter para onde correr. O público gosta de chorar, mas também merece sorrir um pouco.

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