Orgulho e Paixão faz delicada abordagem da descoberta da homossexualidade

Publicado em 13/09/2018

É bem raro uma novela das seis da Globo se aprofundar na temática da homossexualidade. Mais raro ainda é uma produção de época fazer tal abordagem. Por isso mesmo, o beijo entre Luccino (Juliano Lahan) e Capitão Otávio (Pedro Henrique Müller), exibido no capítulo de ontem (12) de Orgulho e Paixão, causou tanta repercussão. A cena coroou a boa abordagem que o autor Marcos Bernstein faz da descoberta da homossexualidade em plena década de 1910.

Para chegar à cena em questão, o autor foi hábil na construção da história de Luccino. Numa época em que a homossexualidade era um tabu ainda maior do que nos dias de hoje, o personagem despertou compaixão em sua escalada rumo à autodescoberta. Da “paixonite” por Mario, na verdade Mariana (Chandelly Braz) disfarçada, até a compreensão sobre sua condição, o público se tornou cúmplice de Luccino. Quando chegou a vez de colocá-lo numa história de amor ao lado de Otávio, a audiência já estava torcendo por ele.

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Claro, a abordagem parece um pouco avançada para o período em que a trama de Orgulho e Paixão se passa. Chamou a atenção a facilidade com que boa parte dos personagens entendeu e aceitou a condição de Luccino. Mas isso não tira o mérito do autor Marcos Bernstein, que mostrou muita sensibilidade na condução da trama. Assim, a chegada do beijo entre os dois personagens foi um processo natural. E a cena em si casou perfeitamente com a delicadeza do texto. Além disso, vale destacar o excelente trabalho dos atores Juliano Lahan e Pedro Henrique Müller. Rostos pouco conhecidos, eles imprimem credibilidade ao sentimento de seus personagens.

Orgulho e Paixão e o “beijo gay” nas novelas

Desde que personagens homossexuais passaram a se tornar mais comuns nas novelas, cobrava-se cenas mais carinhosas estes casais. Afinal, a maioria dos casais gays era mostrado quase como amigos, sem maiores intimidades. Assim, começou o que se chamou de “tabu do beijo gay nas novelas”. Ficou famoso o caso da novela América, na qual Junior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) tiveram uma cena de beijo gravada, mas que não foi ao ar. Essa barreira foi “quebrada” na Globo em Amor à Vida, com Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso).

Entretanto, as experiências que vieram a seguir mostraram que haviam mais barreiras à frente. Cenas exibidas em novelas como Em Família e Babilônia já não foram tão bem-aceitas. Sendo assim, ficou claro que ainda haveria todo um trabalho a ser feito na tentativa de mostrar um romance gay na TV como algo natural. Não que não tenha tido avanços: no ano passado, Malhação – Viva a Diferença mostrou beijo entre meninas.

Mas, parece, ainda falta um pouco mais para que um “beijo gay” nas novelas seja tratado como mais um beijo. Afinal, beijos não são classificados por orientação sexual. São apenas beijos.

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