Apesar dos tropeços, Deus Salve o Rei termina de maneira digna

Publicado em 31/07/2018

Não é raro a direção da Globo promover intervenções em novelas que não rendem os resultados esperados. Assim como é bastante comum que algumas intervenções terminam por desfigurar as tramas, fazendo com que elas percam o rumo. Babilônia é um exemplo recente de uma novela que piorou depois que mudou de rota para tentar aumentar a audiência. No entanto, Deus Salve o Rei pode ser considerada um caso de intervenção que deu certo. A emissora mexeu na trama, que melhorou consideravelmente na reta final.

Deus Salve o Rei teve sérios problemas iniciais. Pra começar, tinha um casal protagonista fraco. Afonso (Rômulo Estrela) devia assumir o reino de Montemor, mas se apaixonou por uma plebeia e abdicou do trono. E Amália (Marina Ruy Barbosa) não se opôs à decisão do amado. Como resultado, Montemor ficou entregue ao príncipe Rodolfo (Johnny Massaro), que arruinou o reino. Ou seja, não era possível torcer por um casal que assistiu passivamente um reino ser destruído por um rei fanfarrão. Além disso, Deus Salve o Rei tinha tramas paralelas fracas, que não a levavam a lugar nenhum. E, ainda por cima, não fazia qualquer diálogo com a atualidade, tornando-se uma trama sem propósito. Em suma, não havia uma justificativa para a história se passar na Idade Média.

Leia também: Participantes estragam o Jogo de Panelas, do Mais Você

Com isso, a trama de Daniel Adjafre não conseguiu fidelizar o público, com oscilações graves na audiência. Percebendo os erros, a direção de teledramaturgia da Globo interveio e escalou o veterano Ricardo Linhares como supervisor de texto. E Linhares, por sua vez, colocou a trama nos trilhos, fazendo com que ela encontrasse, de fato, uma história. Assim, personagens sem função saíram de cena, outros entraram, e a novela ganhou uma espinha dorsal mais bem definida.

Deus Salve o Rei: disputa pelo trono, bruxarias e humor

A chegada do Rei Otávio (Alexandre Borges) e sua relação com a vilã Catarina (Bruna Marquezine) movimentou Deus Salve o Rei. E a decisão de Afonso de finalmente brigar pelo trono fez a história avançar. Deus Salve o Rei passou a focar num interessante jogo de poder entre os reinos da Cália. Paralelamente, as bruxas do enredo ganharam espaço. Brice (Bia Arantes) ganhou uma trama própria, e Selena (Marina Moschen) cresceu ainda mais. Amália também chegou a ser acusada de ser bruxa e quase foi condenada. Assim, Deus Salve o Rei finalmente estabeleceu um necessário diálogo com a contemporaneidade. A “caça às bruxas” serviu para que a novela tratasse de preconceito e intolerância, temas bastante atuais.

Além disso, a novela ficou mais livre para fazer um humor mais interessante nas tramas paralelas. Neste contexto, a relação entre Rodolfo e Lucrécia (Tatá Werneck) ganhou mais substância, com diálogos espirituosos e bastante afiados. Lucrécia, aliás, sempre fazia piadas com assuntos atuais, o que era bastante saboroso.

Ou seja, a intervenção da direção da Globo e de Ricardo Linhares fez bem à Deus Salve o Rei. A trama conseguiu sair do seu estado de letargia sem trair sua ideia original, ganhando novas possibilidades. Não que tenha sido uma grande novela. Mas, ao menos, fugiu de se tornar um grande fiasco e conseguiu empolgar na reta final. Como uma experiência, Deus Salve o Rei conseguiu apagar sua má impressão inicial. Saiu de cena dignamente.

Leia também: Reprise de Belíssima não refresca situação das tardes da Globo

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade