Vale a Pena Ver de Novo versus Canal Viva: por que não se deve esperar o mesmo das reprises dos dois

Publicado em 02/02/2018

Desde o lançamento do Viva pela Globosat, em 2010, o público se fez presente com seus pedidos de reprise e reclamações quanto ao que vê ou fica sabendo que poderá ver no canal. As novelas da Globo, grande chamariz, ocupam três horários e suas escolhas provocam verdadeira comoção nas redes sociais, tanto a favor quanto contra. Já o Vale a Pena Ver de Novo, da Globo aberta, é velho conhecido do público, no ar desde 1980, e por muitos anos foi a única grande (e incerta) chance de rever uma novela da qual se gostou muito, ou não se pôde acompanhar quando em exibição inédita.

Nesses quase 40 anos o Vale a Pena Ver de Novo nunca teve um padrão muito claro para a escolha de seus cartazes: foram reprisadas tanto histórias que mal haviam saído do ar, como Top Model, de Walther Negrão e Antonio Calmon, que terminou em maio de 1990 e voltou em janeiro de 1991, quanto algumas cujos fãs já haviam até perdido a esperança de rever, como Deus nos Acuda, de Silvio de Abreu, encerrada em março de 1993 e que só deu o ar da graça à tarde em novembro de 2004.

O sucesso na primeira exibição também não foi garantia de retorno na faixa vespertina, já que nenhuma novela de Janete Clair, por exemplo, fez parte da sessão, enquanto títulos como Força de Um Desejo, de Gilberto Braga e Alcides Nogueira, que a despeito de sua grande qualidade ficou aquém das expectativas de audiência em 1999 às 18h, voltaram.

Já o Viva, um canal inteiro, tem como proposta aproveitar o rico acervo da Globo, sim, mas de forma a agradar um público mais saudosista, que não encontra no Vale a Pena Ver de Novo, especialmente em tempos de YouTube, Globo Play e boxes oficiais de DVDs com as novelas em compacto, as atrações que gostaria e da forma como gostaria – na íntegra e tão antigas quanto possível.

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Diversos grandes clássicos da teledramaturgia já foram reprisados pelo Viva – e dois deles depois voltaram outra vez na Globo, O Rei do Gado e Anjo Mau. Como é um canal pago, realmente nada impede que o grande público possa acompanhar Roque Santeiro, Mulheres de Areia, A Viagem, Fera Ferida, Por Amor, Fera Radical, Bebê a Bordo, Vale Tudo, Despedida de Solteiro no canal aberto depois. São públicos distintos, porque diferem em tamanho, disponibilidade, interesses e condições. E a Globo sabe disso.

O Viva não é um “canal Vale a Pena Ver de Novo”; é um canal que exibe reprises com uma finalidade distinta da sessão aberta de repetecos. Seus resgates de programação buscam audiência, mas junto a telespectadores que saibam e queiram valorizar os programas de um tempo em que a relação da audiência com a televisão era outra. Por isso é que é nele e não na Globo é que o público encontra produções como Dancin’ Days, Pai Herói, Água Viva e a já liberada Jogo da Vida, deixando-se Senhora do Destino, O Clone, Alma Gêmea e Cheias de Charme, entre outras mais recentes, para a Globo.

Há um trato que estabelece em pelo menos 20 anos o tempo para que uma novela seja aproveitada pelo Viva. Justamente para que o novo consumo mais rápido e ainda “no calor” da primeira exibição seja através da Globo, e fique para o Viva o lado “clássico” da coisa. Por essas e outras é que perde tempo quem lota as caixas de mensagens e comentários em postagens do canal pago pedindo a reprise de novelas recentes. Essas ficam para o Vale a Pena Ver de Novo, em plena tarde, com conteúdo editado e vigiado.

*Por Fábio Costa

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