Com história central fraca e atuações estranhas, é difícil acreditar que Pega Pega fez sucesso

Publicado em 06/01/2018

Na próxima segunda-feira (8), o horário das 19 horas da Globo encerrará mais uma trama: Pega Pega, folhetim que marcou a estreia de Claudia Souto como autora solo, mas que não deixará nenhuma saudade.

Na verdade, saudade é relativo. Pega Pega deverá fechar sua trajetória com 29 pontos de audiência na Grande São Paulo. É a maior média de Ibope do horário desde a excelente Cheias de Charme, em 2012.

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Pega Pega superou, por exemplo, tramas como Totalmente Demais, Haja Coração e Rock Story, suas antecessoras no horário das 19h, que foram sucessos de público e também de crítica.

Ao bem da verdade, passada sua trajetória, não dá muito bem para entender como Pega Pega foi bem sucedida. Não é possível afirmar qual é a trama central da história. Na teoria, foi o roubo do Carioca Palace.

O problema é que, lá pelo capítulo 40, se notou que tal roubo não segurava uma novela diária até o fim. Para tanto, se trouxe à baila o assassinato da primeira mulher do mocinho Eric (Mateus Solano). Posteriormente, foi explorada a relação entre Malagueta (Marcelo Serrado) e Maria Pia (Mariana Santos).

Depois, mais para o fim, Claudia lembrou do assalto e transformou tudo o que dissemos acima em trama paralela. Fora que, em dado momento, lá pela metade, nada avançava na novela, criando a famosa barriga.

O texto da autora foi por diversas vezes confuso. Sem deixar claro o que queria, Pega Pega jogava tramas na cara do público, mas não aprofundada. Pior: quando desenvolvia, desenvolvia mal. Ficou chata. Parece que Claudia só reparou que o roubo do Carioca Palace não dava uma novela quando Pega Pega já estava no ar.

Pega Pega ficou uma novela incômoda. Várias vezes me peguei pensando o seguinte: “Que horas essa novela acaba, meu Deus?”. Os 45 minutos de capítulo pareciam uma eternidade – até mesmo na reta final. O julgamento do assalto do Carioca Palace, por exemplo, foi enfadonho até dizer chega.

Além disso, as atuações da novela foram muito irregulares. Camila Queiroz e Mateus Solano são atores talentosos, mas além de não terem química, por vezes senti um desleixo em cena. Como se estivessem ali apenas por estar. Trabalho e composição esquecíveis.

Também vale ressaltar, no ponto ruim, as atuações de Thiago Martins, Marcos Veras e Vanessa Giácomo. Tive a mesma sensação de desleixo, de “tanto faz”. Um certo desinteresse. Mas diga-se: o texto não ajudava – e a direção, também equivocada, muito menos.

Mesmo com muitos defeitos, Pega Pega teve alguns poucos pontos positivos. Marcelo Serrado, Irene Ravache e Nanda Costa foram muito bem. Mariana Santos também merece aplauso, principalmente por ter superado a desconfiança e ter mostrado que é uma boa atriz. Quero vê-la em uma novela melhor e mais bem estruturada.

Discordo da autora Claudia Souto, que disse em entrevistas que fazia a novela para o público. Pega Pega não foi “que nem sarna”. Não pegou. Não foi comentada. Não teve repercussão. Ninguém fala ou falou dela. Seu sucesso é daquelas coisas que a ciência exata não pode explicar, ou mesmo compreender. Os tempos de crise econômica, concorrentes fracos e público ligado em TV aberta aos montes talvez ajude a entender o feito.

No fim das contas, só resta aceitar, já que 29 pontos é uma audiência respeitável nos tempos atuais. Mas Pega Pega, certamente, não será lembrada num futuro próximo. Ou até seja, no sentido de ser uma das novelas mais enfadonhas que já deram as caras na faixa das 19 horas.

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