Com qualidade dramatúrgica e humor gestual, A Fórmula merece segunda temporada

Publicado em 24/08/2017

No ano de 2010, cientistas da universidade de Harvard nos Estados Unidos conseguiram encontrar uma fórmula que retardava o envelhecimento em ratos de laboratório. Naquela época acreditava-se que o mesmo poderia ser feito em órgãos humanos, mas ao expor as cobaias à técnica chamada encurtamento de telômero, eles acabavam sofrendo com o envelhecimento precoce. Embora cogitassem testar tal técnica em seres humanos, os cientistas temiam que o método provocasse tumores nas pessoas, e modificasse seu lado emocional.

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A descoberta da fonte da juventude sempre foi um tema curioso, controverso, e pauta para diversos produtos culturais, sejam peças, livros, filmes, séries e novelas. A série A Fórmula, escrita por Marcelo Saback, Adriana Falcão e Mauro Wilson utilizou justamente essa premissa para a composição de sua trama secundária, já que o foco principal era a trama romântica entre os protagonistas Angélica (Drica Moraes/ Luisa Arraes) e Ricardo (Fábio Assunção/ Klebber Toledo).

O casal jurou amor eterno no final dos anos 80, mas Angélica presa à ideia de viver feliz para sempre ao lado do amado, desistiu de uma grande oportunidade acadêmica em Harvard, acreditando que ele faria o mesmo, mas utilizando-se da vaga deixada em aberto pela namorada, sem saber, Ricardo seguiu sua vida profissional, deixando-a arrasada. Trinta anos depois, houve o reencontro entre os ex-namorados, em que as diferenças entre as escolhas seguidas por eles ficaram claras. Ela, não alcançou o sucesso profissional que todos acreditavam que seria devido à sua genialidade, e ele conseguiu se tornar o rico dono de um laboratório de pesquisas científicas.

Ao longo dos episódios foi revelado que ambas as escolhas levaram os personagens a tristes consequências. Angélica, rompeu laços com a mãe, e se tornou uma mulher com fortes inseguranças, tanto pessoais quanto profissionais. A construção da personagem inclusive, parece ter sido baseada nas inseguranças femininas com a idade, corpo, ciúme em demasia, e preocupação excessiva com que os outros vão pensar. Abalada por ser subordinada ao antigo amor profissionalmente, a cientista consegue criar uma fórmula capaz de fazê-la rejuvenescer por algumas horas, em que permanece com aparência 30 anos mais jovem. Angélica é uma mulher que precisa da segurança de outrora, segurança que só conseguia devido ao suporte do amor de Ricardo.

Fábio Assunção, Luisa Arraes, Drica Moraes e Klebber Toledo na coletiva de imprensa da série A Fórmula (Divulgação/TV Globo)

Ricardo por sua vez, como muitos homens, não aceitou bem os sinais dos tempos, e o texto deixou claro a todo momento que ele era um homem de 50 anos que já havia passado por inúmeros procedimentos estéticos, como aplicações de Botox. Com a vaidade nas alturas, ele gostava de ser elogiado, fazia bem a seu ego. Característica masculina forte, o personagem se encantava primordialmente pela sensação visual, e por isso se atraiu por Afrodite, a versão mais nova de Angélica, porque ela era a personificação visual de seu amor do passado. Ricardo poderia viver aos 50, um amor que foi impedido de viver aos 20, com uma mulher que era exatamente igual à mulher que ele amava aos 20. Angélica, podia fazer o mesmo ao 50, ao mesmo tempo em que poderia vingar-se de seu amor. Ambos apreciaram o poder em diferentes esferas.

Divertida, o ponto alto da série estava nas interações entre personagens, e no texto preciso colocado na boca das excelentes Drica Moraes e Luisa Arraes. As atrizes souberam compor uma personagem que usava o humor no gestual que beirava a loucura. Dos gritos, gemidos, jeito de andar e expressões faciais, em tudo elas se assemelharam. Merece palmas ainda, Luisa, que deu às diferentes versões de Angélica tons característicos às diferentes idades: A Angélica de 20, com sua imaturidade e subversão era extremamente diferente da Angélica com 50, e cara de 20. Talvez o processo de preparação intenso dos atores tenha ajudado Klebber Toledo a chegar no timbre e dicção idênticos aos de Fábio Assunção. Outro ponto positivo: A gravação feita em plano sequência fez toda a diferença na tela, gerando o clima ágil das cenas.

Leve, colorida, romântica, a série teve bons elementos para se tornar um sucesso, mas a baixa divulgação e o horário ruim acabaram fazendo com que ela não gerasse tanto buzz quanto merecia. Depois da revelação feita por Angélica sobre a fórmula, o episódio final foi encerrado deixando no ar a esperança de uma segunda temporada. E esperamos que ela realmente exista.

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