Com um primeiro capítulo movimentado, A Força do Querer faz boa estreia

Publicado em 04/04/2017

Depois de duas novelas pretensiosas como A Regra do Jogo e Velho Chico, ficou a impressão de que o público noveleiro ansiava por uma trama mais convencional. Aí veio A Lei do Amor com a promessa de ser este resgate do “folhetim raiz”. No entanto, a novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari não passou de uma mera intenção, pois na prática a história simplesmente não aconteceu. E sua substituta, A Força do Querer, parece querer vir com esta mesma intenção de ser o novelão tão ansiado pela audiência. E, a julgar pelo primeiro capítulo, tem tudo para ser bem sucedida na missão.

Gloria Perez é adepta do folhetim rasgado, e A Força do Querer não nega o DNA de sua autora. No entanto, a veterana novelista parece querer imprimir alguma novidade em sua obra. Suas tramas anteriores sempre tiveram triângulos amorosos muito bem marcados, e heroínas muito fortes nas histórias que lideraram. Basta lembrar de Morena, Maya, Sol, Jade, Dara… Todas muito donas de suas histórias.

Desta vez, a autora promete uma gama maior de protagonistas. No primeiro capítulo, curiosamente, os principais destaques foram dois dos mocinhos, Zeca (Marco Pigossi) e Ruy (Fiuk). Felizmente, desta vez ficamos livres de uma história dividida em fases, recurso narrativo que já está cansando. Nesta estreia, houve apenas um pequeno prólogo, que durou pouco mais de um bloco, e serviu mais para apresentar os personagens principais. E deu tempo para que um índio fizesse uma previsão que marcou os heróis. Nada como um spoiler disfarçado de previsão num primeiro capítulo de novela.

Mesmo que os dois heróis tenham sido o principal fio condutor deste primeiro episódio, quem brilhou mesmo no primeiro capítulo foram as mulheres. Três delas já surgiram em grandes momentos: Joyce, mulher refinada e mãe excessivamente dedicada vivida por uma deslumbrante Maria Fernanda Cândido; Silvana, a simpática moça que tem vício em jogo, com a sempre delicada e certeira Lília Cabral; e Bibi, mulher impulsiva e movida a paixões fulminantes encarnada por uma solar Juliana Paes. Ritinha (Isis Valverde), que selará o destino de Zeca e Ruy, quase não teve espaço nesta estreia.

O primeiro capítulo de A Força do Querer, assim, focou nesta estreia apenas em seus núcleos principais e começou a desenvolver as primeiras relações entre seus personagens. Foi um capítulo ágil, que apresentou eficientemente os personagens, sem cair muito no didatismo e no jogral. Também chamou a atenção a direção segura e certeira de Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos e, principalmente, a fotografia impecável, que explorou bem as belas paisagens do Norte do Brasil.

Aliás, este deve ser o principal trunfo de A Força do Querer. Gloria Perez adora explorar uma cultura exótica e, desta vez, ficará em terras brasileiras, apostando na diversidade cultural do nosso país. Também chama a atenção a coragem de abordar numa novela a questão da identidade de gênero, por meio da personagem Ivana (Caroline Duarte), que deverá assumir uma identidade masculina ao longo do enredo. Nota-se que a Globo está realmente empenhada em desmistificar a temática, que já esteve na pauta do Amor & Sexo e do Fantástico, o que é muito bom. Ao ser mostrado numa novela, o tema poderá ganhar um necessário debate. Ficamos na torcida pra que seja uma boa abordagem.

O primeiro capítulo de A Força do Querer deixou uma boa impressão. Ainda é cedo para decretar que a trama será a solução dos problemas da Globo no horário, mas, a julgar pela estreia e pelo histórico de Gloria Perez, que costuma atender bem ao público “noveleiro”, tem tudo para pegar.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade