Liberdade, Liberdade! – Novela com cara de minissérie

Publicado em 13/04/2016

Liberdade, Liberdade estreou, sem muito alarde e uma divulgação em minha opinião aquém do que a nova novela das 23 horas merecia. Com uma produção caprichada, o curto primeiro capítulo apresentou uma série de particularidades.

Quem tem 25 ou mais certamente deve ter tido aquele saudosismo de assistir à Liberdade, Liberdade como quem assistia uma minissérie antiga, que eram baseadas em romances e tinham como pano de fundo algum fato histórico brasileiro.

Embora o foco da nova trama seja Joaquina, a filha de Tiradentes foi através do líder da inconfidência mineira que começamos a acompanhar o desenrolar da história. Thiago Lacerda nos mostrou um Tiradentes diferente daqueles que até então eram retratados pela televisão. Evitando a postura de mártir, construída através de roteiros maniqueístas, Mario Teixeira e equipe fizeram do Tiradentes de Lacerda aquilo o que ele realmente foi: um líder revolucionário que lutava contra a exploração de recursos naturais imposta pela coroa portuguesa, que levava as riquezas encontradas em terras mineiras para Portugal, e visava a independência do Brasil.

Enquanto o pai luta por uma nação liberta, Joaquina é criada por sua mãe Tonica, de Letícia Sabatella num sítio afastado dali. Desde a primeira cena, ao perseguir uma galinha, Mel Maia como sempre excelente em cena consegue nos mostrar a personalidade forte da menina, assim como o inconformismo herdado do pai e a hostilidade (com Rubião) daqueles que tem o faro para encontrar pessoas de caráter duvidoso, mas sem deixar de lado a essência de criança quando ela pede à mãe que lhe deixe brincar com o dente recém arrancado de Rubião. O reencontro de Joaquina e Joaquim foi bonito, e singelo

Chama a atenção o cuidado da produção com a caracterização dos atores, objetos de cena e cenários. As roupas refletem exatamente a situação econômica dos personagens, bem como a cromia das mesmas já que a novela se passa numa época em que usar roupas coloridas era um privilégio de poucos. Por falar em época, o enredo não-ficcional da novela foi inserido de forma um tanto quanto corrida na tentativa esconder um didatismo que se presente em demasia no texto, iria na contramão das cenas de maior agilidade e ação, ou seja, os roteiristas preferiram deixar a cargo do público que se conhecesse previamente a história. A abertura me deixou com um misto de tristeza, pela trilha sonora utilizada e estranhamento, já que foram raras as vezes que a Rede Globo optou por usar imagens dos personagens em suas aberturas (salvo a maioria das temporadas de Malhação)

Liberdade, Liberdade chega à TV, numa época em que se acredita que o escapismo pode gerar maior público, e talvez a TV estivesse mesmo precisando de uma trama de época politicamente contextualizada. Ao assistir à estreia, me peguei traçando um paralelo com a primeira temporada da série americana Game of Thrones, por alguns aspectos (Assim como nos livros que deram origem à mesma). Tal qual o nosso Joaquim José da Silva Xavier, na série da HBO, Ned Stark é acusado de traição à coroa e condenado pela rainha a morte em praça pública, e sua filha Arya, uma garotinha esperta, corajosa e respondona assiste sua decapitação assim como Joaquina presenciou o enforcamento do pai. A novela é bem feita, com um texto afiado e edição ágil, e iluminação de cenas muitas vezes sombria e promete prender o telespectador não somente pelo enredo mas pelo seu elenco de peso.

OBS: A cena em que Virgínia, de Lilia Cabral separa a briga de duas meninas ao jogar água nelas possivelmente foi uma cena de humor, não funcionou.

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