Onde Nascem os Fortes: agora sim, Globo tem uma “supersérie”

Publicado em 24/04/2018

No ano passado, ao lançar Os Dias Eram Assim, a Globo optou por alterar a nomenclatura do que vinha sendo chamada, desde 2011, de “novela das onze”. A história de Ângela Chaves e Alessandra Poggi foi a primeira novela do horário a ser chamada de “supersérie”. Segundo a emissora, a mudança de nome se deu em razão da percepção de que as tramas exibidas no horário vinham se tornando um produto híbrido, pois mesclavam a estrutura clássica das novelas com a narrativa mais arrojada das séries. Surgiu, então, o nome “supersérie”.

Entretanto, em 2017, Os Dias Eram Assim não fez jus ao título “supersérie”. A história tinha uma produção caprichada, bons atores e uma impecável reconstituição dos anos 1960, 70 e 80, mas pecava na história central rasa, que nada mais era que um típico amor impossível tendo como pano de fundo a ditadura militar. Ou seja, foi uma novela quase “água com açúcar”, que ganhou um tom mais adulto apenas por algumas sequências mais ousadas de nudez ou violência.

Conheça a história de Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da Globo

Mas Onde Nascem os Fortes, estreia de ontem (23) da Globo, já mostrou que tem muito pouco de novela. Em seu primeiro capítulo, a trama de George Moura e Sergio Goldenberg deixou claro que vai além do folhetim. Não que a trama fuja dos elementos clássicos da narrativa diária televisiva (e nem é essa a intenção), mas a história procura se colocar de maneira diferente. Grande takes silenciosos mesclados a personagens que dizem a que vieram não por palavras, mas por gestos, caracterizaram o primeiro capítulo.

Há ali um interesse romântico principal, a mocinha Maria (Alice Wegmann, ótima em cena) e o mocinho Hermano (Gabriel Leone, também muito bem), em meio à paisagem arenosa da fictícia Sertão. A mãe dela, Cássia (Patrícia Pillar), já avisou que não gosta do lugar, enquanto a mãe dele, Rosinete (Débora Bloch) se ressente com seu casamento frustrado com Pedro Gouveia (Alexandre Nero) e pela solidão que sente ao cuidar sozinha da filha doente. Enquanto Maria e Hermano se conhecem, Nonato (Marco Pigossi), o irmão de Maria, se envolve numa briga justamente com Pedro Gouveia, que se mostra como o homem forte do local. Neste conflito de cores fortes, há o contraste entre a modernidade e o coronelismo arcaico, mostrando os “poderosos” que fazem a lei.

Quem é quem em Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da Globo

Foi um primeiro capítulo eletrizante, com boas cenas e uma apresentação de personagens que fugiu do lugar-comum. Os protagonistas foram apresentados em ação, sem firulas, numa narrativa que não chega a ser difícil, mas que também não entrega tudo pronto ao espectador. Algo na linha que os autores George Moura e Sergio Goldenberg e o diretor José Luiz Villamarim já entregaram anteriormente, com Amores Roubados e O Rebu.

O Rebu, aliás, foi exibida como “novela das onze” em 2014, mas já havia trazido algo além de uma novela. O remake do clássico de Bráulio Pedroso chamou a atenção não apenas pela narrativa não-linear, que fazia um looping temporal vertiginoso, mas também pela maneira arrojada da apresentação dos personagens, das relações que iam se desenrolando e do conflito que os envolvia. Lembrada pela sua audiência fraca, O Rebu, na verdade, foi a primeira “novela das onze” a, verdadeiramente, imprimir elementos da narrativa seriada em sua estrutura, característica que fez o próprio canal a rebatizar a novela das onze de supersérie anos depois. Ou seja, na prática, O Rebu foi a primeira supersérie, de fato, a ser exibida pela Globo.

Onde Nascem os Fortes vai pelo mesmo caminho, com a vantagem de ter uma narrativa mais palatável, que deve agradar tanto aqueles que curtem uma boa novela, como aqueles que preferem um produto mais bem cuidado, tanto na narrativa quanto na direção. Por isso mesmo, tem grandes chances de agradar. A conferir.

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